Ontem assisti dois programas na televisão. Canais diferentes. Personagens diferentes. Horários diferentes. Assuntos diferentes. Parece que tudo é para ser diferente.
Acordei hoje pela manhã. Abri o jornal como costumo fazer todos os dias. Hábito que cultuo ao longo da minha vida, desde que era pequenino, e me lembro de gostar de ler a parte de cultura, afinal é lá que está as tirinhas de jornal, doce ingenuidade infantil. Agora leio o jornal todo.
Antes quando criança achava graça nas tiras, dava risadas e minhas leituras não passavam de alguns minutos. Hoje, não sei bem como expressar meus sentimentos, mas ainda dou risada das tiras.
Mas eu estava falando dos programas da televisão, não é?
Foram incrívelmente ruins, mas posso dizer que mesmo sendo da pior qualidade, posso tirar algumas conclusões, e não fique cheio de esperança, achando que eu vou te dizer alguma coisa sensacional, pois eu não vou.
Em um, o Roberto J. vestindo seu paléto azul marinho ou preto, não sei bem. Provavelmente um Armani. Cabelo bem cortado, grisalho. Gravata de seda italiana. Ar de arrogância e nariz empinado. Caras e bocas. Alto, olhos azuis, réplica brazuca do modelo importado.
No outro, o Roberto J. vestindo seu paléto feito sob medida, meio amarrotado, azul marinho ou preto. Cabelo estranho, me aparece mal cortado. Fios brancos. Gravata deve ser de seda italiana. Ar arrogante e de esperteza. Caras e bocas. Estatura mediana, olhos pretos, modelo brazuca original.
No programa, Roberto J., tenta fazer que o jogo demonstre o meio corporativo e suas estratégias. Muito ruim, afinal de contas o mundo corporativo não vive de estratégias a curtíssimo prazo. Não se avalia o conhecimento e expertise para corporações, em games televisivos. Nesse show, giram milhões de reais.
No outro programa, Roberto J., tenta fazer o jogo que demonstre o meio político e suas estratégias. Muito ruim, afinal de contas, o nosso mundo político, não tem estratégias honestas e claras. Dizem que estão julgando uma suposta corrupção, mas isso é somente a pequena ponta do Iceberg. Nesse show, giram milhões de reais.
Mas como já disse, foi ontem tudo isso.
O Roberto J., estava lá sentado, cercado de “colegas”, questionando-o sobre fraudes, compras, corrupção. E todo mundo de rabo preso. Roberto J., que fala muito bem, devolve as acusações, rebate, esquiva e ninguém consegue não desfazer o sujeito, já que todo mundo que está lá, é do mesmo saco.
O Roberto J., estava lá sentado, cercado pelo seus “assessores”, politicamente correto, afinal é um homem e uma mulher. Questionando os participantes do game, sobre suas condutas.
Os participantes com o rabo preso, não conseguem se justificar pelas suas falhas. E ai está, talvez, a demonstração que me assusta. A maior de todas as semelhanças entre os dois espetáculos mostrados na Tv.
Nesse game, três participantes foram colocados à serem sabatinados por suas ações ou falta dela. Dois deles, tentaram iludibriar, usar da malandragem, da esperteza, da dúbia interpretação dos fatos. Tentaram tirar proveito. Ganância. Mesquinharia. Falta de educação, honestidade, ética e decoro. O outro, que deveria ser o “líder”, “a locomotiva”, “o cérebro”, “o articulador” e por fim, o responsável pelos seus subordinados, alega, falta de conhecimento, insubordinação e traição.
Preciso dizer que todos os três tem seus 20 e poucos anos.
O que me dá medo, é ver o nosso pais indo nessa direção, sem nenhum governo. Por esses dois quadros, chego a conclusão que o regime que está instaurado aqui não é a democrácia, muito menos uma ditadura e não passa perto da anarquia. O regime, chamarei de “Malandragem do Gerson”. Ser malandro e ter vantagem em tudo, e perdoe-me o Gerson, meia da seleção de 70, mas a expressão popular é essa.
Pelo exemplo que dei, a juventude, já aprendeu que é preciso ser malandro e tirar a vantagem de tudo e de todos. Que assumir seus erros é burrice, e melhor mesmo é passar o outro para trás. Justificar que “não sabia”, pricipalmente para o “líder”, é a justificativa que cabe. Mas não cabe. O líder deve saber de tudo, ou então, servirá o provérbio popular do corno: todo mundo sabe, menos o corno, que é o último a saber.
Assim nosso povo aprendeu a viver, achando que a corrupção é normal, e quando uma coisa tão absurda como essa, passa a ser normal, minha espinha treme de medo e me dá frio na barriga.
Será que existe um parralelo traçado com os dois Robertos e seus respectivos shows?
Roberto J. está sendo sabatinado pelo Congresso sobre os atos ilícitos praticados pelos partidos nacionais. Pela falta de ética e honestidade. Pelas “malas pretas”, gíria que, tomo a liberdade, de trazer do nosso futebol, e ela nem é tão nova assim. Roberto J. alivia o Presidente da República, dizendo que ele é um pobre coitado, e que não sabia de nada, e então, como já disse em algum parágrafo desse texto, concluo que ele é corno, uma vez que corno é o último a saber.
No game de Roberto J. o líder foi mandado embora, pela falta de liderança, ignorância dos fatos e falta de controle dos seus imediatos.
Mas não me esqueci não, que havia dito que lera o jornal esta manhã. Li o articulista do Jornal Folha de São Paulo [01/06/2005], Clóvis Rossi. Nele o articulista diz: “Fujamos, porque quem pauta o Brasil é o pântano”. E infelizmente esse é meu sentimento. De fuga. Ir embora.
Em 70, durante a ferrenha ditadura Médici, o bordão do gorverno era: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. E a resposta popular era: “o último que sair apaga a luz do aeroporto!”.
Retrocesso à 70? E agora, fugimos?
O Brasil está atolado, soterrado de lama podre. A desgovernabilidade. Corrupção no seu melhor modelo.
Como sugere Clovis Rossi em seu artigo, estamos sendo pautados pelas palavras do Roberto J.. A Bolsa de Valores, treme ao vê-lo sentado na cadeira da CPMI. O dólar cai. O mercado pára. O juros sufocam os investimentos. E os investidores externos não arriscam. Corrupção assola. E o mercado não aceita corrupção.
Roberto J. assume o papel de Roberto J., muda a frase, mas o efeito é o mesmo. Fala da corrupção em Furnas, caem os diretores. “Zé, sai daí”. Cadê o Zé, para onde foi o Zé?
E se fosse game-show, seria “Zé, você está despedido!”
Roberto J., comanda o jogo.
para esclarecer:
Roberto Jefferson, deputado estadual, presidente do PTB, peça chave de diversos escândalos no Governo.
Robero Justus, publicitário, comanda o game-show televisivo, "O Aparendiz".
Fernando Katayama, 01 Julho 2005
Acordei hoje pela manhã. Abri o jornal como costumo fazer todos os dias. Hábito que cultuo ao longo da minha vida, desde que era pequenino, e me lembro de gostar de ler a parte de cultura, afinal é lá que está as tirinhas de jornal, doce ingenuidade infantil. Agora leio o jornal todo.
Antes quando criança achava graça nas tiras, dava risadas e minhas leituras não passavam de alguns minutos. Hoje, não sei bem como expressar meus sentimentos, mas ainda dou risada das tiras.
Mas eu estava falando dos programas da televisão, não é?
Foram incrívelmente ruins, mas posso dizer que mesmo sendo da pior qualidade, posso tirar algumas conclusões, e não fique cheio de esperança, achando que eu vou te dizer alguma coisa sensacional, pois eu não vou.
Em um, o Roberto J. vestindo seu paléto azul marinho ou preto, não sei bem. Provavelmente um Armani. Cabelo bem cortado, grisalho. Gravata de seda italiana. Ar de arrogância e nariz empinado. Caras e bocas. Alto, olhos azuis, réplica brazuca do modelo importado.
No outro, o Roberto J. vestindo seu paléto feito sob medida, meio amarrotado, azul marinho ou preto. Cabelo estranho, me aparece mal cortado. Fios brancos. Gravata deve ser de seda italiana. Ar arrogante e de esperteza. Caras e bocas. Estatura mediana, olhos pretos, modelo brazuca original.
No programa, Roberto J., tenta fazer que o jogo demonstre o meio corporativo e suas estratégias. Muito ruim, afinal de contas o mundo corporativo não vive de estratégias a curtíssimo prazo. Não se avalia o conhecimento e expertise para corporações, em games televisivos. Nesse show, giram milhões de reais.
No outro programa, Roberto J., tenta fazer o jogo que demonstre o meio político e suas estratégias. Muito ruim, afinal de contas, o nosso mundo político, não tem estratégias honestas e claras. Dizem que estão julgando uma suposta corrupção, mas isso é somente a pequena ponta do Iceberg. Nesse show, giram milhões de reais.
Mas como já disse, foi ontem tudo isso.
O Roberto J., estava lá sentado, cercado de “colegas”, questionando-o sobre fraudes, compras, corrupção. E todo mundo de rabo preso. Roberto J., que fala muito bem, devolve as acusações, rebate, esquiva e ninguém consegue não desfazer o sujeito, já que todo mundo que está lá, é do mesmo saco.
O Roberto J., estava lá sentado, cercado pelo seus “assessores”, politicamente correto, afinal é um homem e uma mulher. Questionando os participantes do game, sobre suas condutas.
Os participantes com o rabo preso, não conseguem se justificar pelas suas falhas. E ai está, talvez, a demonstração que me assusta. A maior de todas as semelhanças entre os dois espetáculos mostrados na Tv.
Nesse game, três participantes foram colocados à serem sabatinados por suas ações ou falta dela. Dois deles, tentaram iludibriar, usar da malandragem, da esperteza, da dúbia interpretação dos fatos. Tentaram tirar proveito. Ganância. Mesquinharia. Falta de educação, honestidade, ética e decoro. O outro, que deveria ser o “líder”, “a locomotiva”, “o cérebro”, “o articulador” e por fim, o responsável pelos seus subordinados, alega, falta de conhecimento, insubordinação e traição.
Preciso dizer que todos os três tem seus 20 e poucos anos.
O que me dá medo, é ver o nosso pais indo nessa direção, sem nenhum governo. Por esses dois quadros, chego a conclusão que o regime que está instaurado aqui não é a democrácia, muito menos uma ditadura e não passa perto da anarquia. O regime, chamarei de “Malandragem do Gerson”. Ser malandro e ter vantagem em tudo, e perdoe-me o Gerson, meia da seleção de 70, mas a expressão popular é essa.
Pelo exemplo que dei, a juventude, já aprendeu que é preciso ser malandro e tirar a vantagem de tudo e de todos. Que assumir seus erros é burrice, e melhor mesmo é passar o outro para trás. Justificar que “não sabia”, pricipalmente para o “líder”, é a justificativa que cabe. Mas não cabe. O líder deve saber de tudo, ou então, servirá o provérbio popular do corno: todo mundo sabe, menos o corno, que é o último a saber.
Assim nosso povo aprendeu a viver, achando que a corrupção é normal, e quando uma coisa tão absurda como essa, passa a ser normal, minha espinha treme de medo e me dá frio na barriga.
Será que existe um parralelo traçado com os dois Robertos e seus respectivos shows?
Roberto J. está sendo sabatinado pelo Congresso sobre os atos ilícitos praticados pelos partidos nacionais. Pela falta de ética e honestidade. Pelas “malas pretas”, gíria que, tomo a liberdade, de trazer do nosso futebol, e ela nem é tão nova assim. Roberto J. alivia o Presidente da República, dizendo que ele é um pobre coitado, e que não sabia de nada, e então, como já disse em algum parágrafo desse texto, concluo que ele é corno, uma vez que corno é o último a saber.
No game de Roberto J. o líder foi mandado embora, pela falta de liderança, ignorância dos fatos e falta de controle dos seus imediatos.
Mas não me esqueci não, que havia dito que lera o jornal esta manhã. Li o articulista do Jornal Folha de São Paulo [01/06/2005], Clóvis Rossi. Nele o articulista diz: “Fujamos, porque quem pauta o Brasil é o pântano”. E infelizmente esse é meu sentimento. De fuga. Ir embora.
Em 70, durante a ferrenha ditadura Médici, o bordão do gorverno era: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. E a resposta popular era: “o último que sair apaga a luz do aeroporto!”.
Retrocesso à 70? E agora, fugimos?
O Brasil está atolado, soterrado de lama podre. A desgovernabilidade. Corrupção no seu melhor modelo.
Como sugere Clovis Rossi em seu artigo, estamos sendo pautados pelas palavras do Roberto J.. A Bolsa de Valores, treme ao vê-lo sentado na cadeira da CPMI. O dólar cai. O mercado pára. O juros sufocam os investimentos. E os investidores externos não arriscam. Corrupção assola. E o mercado não aceita corrupção.
Roberto J. assume o papel de Roberto J., muda a frase, mas o efeito é o mesmo. Fala da corrupção em Furnas, caem os diretores. “Zé, sai daí”. Cadê o Zé, para onde foi o Zé?
E se fosse game-show, seria “Zé, você está despedido!”
Roberto J., comanda o jogo.
para esclarecer:
Roberto Jefferson, deputado estadual, presidente do PTB, peça chave de diversos escândalos no Governo.
Robero Justus, publicitário, comanda o game-show televisivo, "O Aparendiz".
Fernando Katayama, 01 Julho 2005
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