Estava clara. A lua brilha no alto. As estrelas eram inúmeras. O céu negro contrasta o brilho dos astros e ficam então, muito mais brilhantes.
O calor é inconfundível. Quente. Calor típico de uma noite de verão. Havia até um brizinha, o que ajudava a refrescar um pouco, mas mesmo assim, o calor era grande.
Lá, a penumbra da noite, deixava-a mais agradável. No fundo uma música calma, não sei dizer qual era, talvez Handel, talvez Bach, não importa. A pouca luz, acalmava tudo. Música, pouca luz, o barulho dos insetos noturnos, algum galho que com o vento cantava também... Fez-se então uma pequena orquestra, de ruídos improvisados, pela conjunção dos mais diversos sons. Sapos, grilos e folhas.
A lua observada tudo de lá, deixando a cor prata predominar o lugar. De longe, sente a calma e a beleza.
A poucas nuvens no ar, não interferem em nada. Aliás, ajudam a dar ao céu negro, pintado de estrelas, mais volume e diversas perspectivas. Desenhos inusitados aparecem e desaparecem, e tudo depente para onde se olha. O reflexo prateado resulta em contrastes inesperados nas núvens, aparentemente brancas, afinal é noite de verão, não dá para saber se são brancas ou não. Mas belas, certamente.
Mas é verão. Todo aquele calor era prenúncio do que estava por vir. Todo verão é assim. Sabemos disso há anos, mas sempre nos surpreendemos e boquiabertos, assistimos à tudo.
Em questões de segundos, tudo o cenário de calma e tranquilidade se vai.
Aquela brisa serena, da lugar ao vento assustador. As árvores, já não balançam mais com delicadeza, chacoalham com força e brutalidade, parecem querer quebrar, mas somente vergam, produzindo de suas folhas, um som amedrontador.
Aquele céu, antes claro e estrelado, agora esta tomado por nuvens, e sem ver as cores delas, certamente sabemos que são negras. A lua desapareceu, como se soubesse que o perigo estava por vir, e então se foi, levando consigo, todas as estrelas. Os pequeninos insetos, também perceberam antes, e sorrateiramente, pararam a sinfônia e foram-se também.
Antes fosse festa, mas não é. Raios, como flashes fotográficos, cruzam o céu, deixando o clarão e fazendo um estrondo de tremer as paredes. Mete medo em todos. A chuva, então cai abundante, sem sequer tomar conhecimento de nada e de ninguém. Impera, singular, somente com seus fiéis batedores vento e raio. Em instantes, já se formam poças gigantescas de água.
Poderia ser assim, tenebroso e assustador. Mas não é.
A beleza da chuva, que afastou o calor, e trouxe o frescor. Que levantou o cheiro bom de terra e o perfume do mato molhado. Que águou as plantas, que se embebedaram da mais pura água, e sorrirão no amanhecer felizes.
A água que cai produz um som único, de gotas, que a cada batida, fazem ondas sonoras singulares e irreprodutíveis, afinal cada gota é única, e se espatifa nos lugares mais diversos, de diferentes texturas e solidez. Nas poças então, é mágico ver as pequeninas gotas se partirem, no encontro delas com elas mesmas, e em uma progessão matemática, se partirem repetidamente, e acabam por fazer um maravilhoso desenho na poça, que agora é um quadro.
O raio que corta o céu escuro, ilumina tudo, parecendo os mais perfeitos efeitos especiais de superprodução holywoodiana, que nunca chegarão perto desta plasticidade sem precedentes. Rasga o céu de ponta a ponta, lembrando, como se fosse o negativo, do maravilhoso quadro de Miró, Linhas Negras.
Ao final do clarão, o estrondo que agora não é mais assustador, afinal a semelhança dele com o tímpano da sinfônica é inevitável.
A música esta lá. A beleza também. Somente o olhar foi que mudou.
Fernando Katayama – março 2005
O calor é inconfundível. Quente. Calor típico de uma noite de verão. Havia até um brizinha, o que ajudava a refrescar um pouco, mas mesmo assim, o calor era grande.
Lá, a penumbra da noite, deixava-a mais agradável. No fundo uma música calma, não sei dizer qual era, talvez Handel, talvez Bach, não importa. A pouca luz, acalmava tudo. Música, pouca luz, o barulho dos insetos noturnos, algum galho que com o vento cantava também... Fez-se então uma pequena orquestra, de ruídos improvisados, pela conjunção dos mais diversos sons. Sapos, grilos e folhas.
A lua observada tudo de lá, deixando a cor prata predominar o lugar. De longe, sente a calma e a beleza.
A poucas nuvens no ar, não interferem em nada. Aliás, ajudam a dar ao céu negro, pintado de estrelas, mais volume e diversas perspectivas. Desenhos inusitados aparecem e desaparecem, e tudo depente para onde se olha. O reflexo prateado resulta em contrastes inesperados nas núvens, aparentemente brancas, afinal é noite de verão, não dá para saber se são brancas ou não. Mas belas, certamente.
Mas é verão. Todo aquele calor era prenúncio do que estava por vir. Todo verão é assim. Sabemos disso há anos, mas sempre nos surpreendemos e boquiabertos, assistimos à tudo.
Em questões de segundos, tudo o cenário de calma e tranquilidade se vai.
Aquela brisa serena, da lugar ao vento assustador. As árvores, já não balançam mais com delicadeza, chacoalham com força e brutalidade, parecem querer quebrar, mas somente vergam, produzindo de suas folhas, um som amedrontador.
Aquele céu, antes claro e estrelado, agora esta tomado por nuvens, e sem ver as cores delas, certamente sabemos que são negras. A lua desapareceu, como se soubesse que o perigo estava por vir, e então se foi, levando consigo, todas as estrelas. Os pequeninos insetos, também perceberam antes, e sorrateiramente, pararam a sinfônia e foram-se também.
Antes fosse festa, mas não é. Raios, como flashes fotográficos, cruzam o céu, deixando o clarão e fazendo um estrondo de tremer as paredes. Mete medo em todos. A chuva, então cai abundante, sem sequer tomar conhecimento de nada e de ninguém. Impera, singular, somente com seus fiéis batedores vento e raio. Em instantes, já se formam poças gigantescas de água.
Poderia ser assim, tenebroso e assustador. Mas não é.
A beleza da chuva, que afastou o calor, e trouxe o frescor. Que levantou o cheiro bom de terra e o perfume do mato molhado. Que águou as plantas, que se embebedaram da mais pura água, e sorrirão no amanhecer felizes.
A água que cai produz um som único, de gotas, que a cada batida, fazem ondas sonoras singulares e irreprodutíveis, afinal cada gota é única, e se espatifa nos lugares mais diversos, de diferentes texturas e solidez. Nas poças então, é mágico ver as pequeninas gotas se partirem, no encontro delas com elas mesmas, e em uma progessão matemática, se partirem repetidamente, e acabam por fazer um maravilhoso desenho na poça, que agora é um quadro.
O raio que corta o céu escuro, ilumina tudo, parecendo os mais perfeitos efeitos especiais de superprodução holywoodiana, que nunca chegarão perto desta plasticidade sem precedentes. Rasga o céu de ponta a ponta, lembrando, como se fosse o negativo, do maravilhoso quadro de Miró, Linhas Negras.
Ao final do clarão, o estrondo que agora não é mais assustador, afinal a semelhança dele com o tímpano da sinfônica é inevitável.
A música esta lá. A beleza também. Somente o olhar foi que mudou.
Fernando Katayama – março 2005
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