Friday, July 15, 2005

Cueca de Luxo

O dia começava ensolarado. É inverno. E inverno em pais tropical é muito gostoso. Bem, eu gosto. Fresco, solzinho que esquenta, nem lá muito calor nem muito frio.

Coei meu café. Aroma matutino essencial, afinal, cresci com esse cheiro pelas manhãs, e quando não o sinto, parece que falta alguma coisa no dia. Tudo estava, como diria um amigo, “indo pelos conforme”. Mas ai aconteceu a exceção, mais uma vez, a regra da exceção, e da regra, é não ter exceção.

Eu não li os meus jornais. Como todos vocês sabem, eu leio meus jornais pela manhã, assim que acordo junto com meu café. Ao lê-los, me intero das notícias já antigas do dia anterior, dou risada das charges, choro com as tragédias e tudo mais.

Mas hoje não li. Porquê? Vim direto com minha xícara, escrever.

Talvez pela ansiedade em colocar para fora minhas idéias, talvez pela inconformação, não sei.


Acompanho os últimos acontecimentos no Brasil. E logicamente, fico apreensivo, chocado, espantado e enojado com o que estou vendo. Impossível acreditar em tudo, mas impossível não acreditar. E é, mais tragicamente cômico, a palavra “acreditar”, dar crédito, à todos aqueles que se acusam frente-à-frente, de roubo, lavagem de dinheiro, troca de favores e tudo isso com os nosso créditos, afinal pagamos nossos impostos.

Por falar em imposto, ou seja, aquilo que nos é obrigatório e foi decidido por um treceiro, em um show da Polícia Federal, uma estrela da sociedade acabou ontem no xilindró por algumas horas.


Dona de uma das marcas mais cobiçadas pelos ricaços do Brasil. Fez festão com direito a vinho espumante de primeira e caviar. Saiu em todos os jornais do Brasil e logicamente em Caras, o periódico que determina os relacionamentos amorosos dos famosos, uma vez que, a cada 3 exemplares nas bancas, tá, com um chorinho, 4, mudam os pares, mas as pessoas continuam as mesmas. E dessa vez quem fez o show, foi a PF. Não tinha champanhota e nem caviar. Talvez, um cola do mais barato e pão com mortadela, e olhe lá!

O caso foi, que em uma fiscalização de “rotina”, em 2004, os agentes da PF encontraram uma carga da loja, com algumas notas frias e à partir daí, começaram a investigar, e por incrível que pareça, finalizaram as investigações nessa semaninha. Formação de quadrilha, sonegação de imposto e contrabando. Não é pouco não.

Posso então levantar algumas suspeitas e talvez tirar algumas conclusões.

Suspeito que, como sempre acontece na política mundial (ufa! Não é só aqui! Ainda bem por um lado, mas por outro, triste constatação: muda a cor da pele, a religião, o sotaque, o idioma, “mas os meus cabelos continuam os mesmos!’, é: os humanos são idênticos, afinal diferenciamos apenas um gene da minhoca), criam um caso para desviar a atenção de outro. E isso é dito há anos. Lembro da história de 70. Brasil campeão. Ditadura comia solta nos calabouços do DOICOD, e o povo pulava feliz da vida com a conquista do Tri. E por ai vai.

Por esse raciocínio simplista, suspeito que o estardalhaço feito pela PF, é simplesmente um desvio de atenção.

Pelas acusações que sofreram, talvez, não tenha jaula suficiente no Brasil para colocar todo mundo lá. Vamos ver:

Formação de quadrilha. Talvez ano que vem em Brasília, não tenha mais festa junina, que dizer pode até ter, mas quadrilha não terá, afinal vai estar todo mundo na cadeia. E por falar em cadeia, lembrei do Lalau, que ta preso em sua mansão, mas cadê o resto do bando?


Contrabando. Os agentes penitenciários vão ter que fazer curso de chinês e coreano. A rua 25 de Março em São Paulo e suas imediações vão ficar vazias e os camelôs do Brasil à fora, vão disputar espaço no pátio, durante o banho de sol. O Brasil segundo organizações internacionais, é um dos principais focos de pirataria e contrabando mundial.

Sonegação de imposto. Manda fechar o Brasil, porque não há empresa aqui que não de uma facadinha no Leão. Com a carga tributária que temos, é impossível pagar todos os deveres com o Estado. Se fizer isso, fecha. Eu fechei. Roubou um ou um milhão, só muda o número de zeros, o verbo é o mesmo.

Não acredito que o governo do Molusco, seja o mais corrupto de todos. Talvez, o mais fraco, e que não conseguiu segurar com perfeição a corrupção que assola nosso país desde os tempos do extrativismo de recursos naturais. Acredito que nesse governo, esta só aparecendo a sujeira acumulada.

Através dos anos de oposição, o PT, ensinou seus adversários a fazer certo o que ele tentava por anos. O PT em sua história sempre foi oposição, talvez a oposição de guerrilha, e nunca conseguia o que queria. O Lula, então sindicalista, estava nas portas das fábricas fazendo piquete. Por 20 anos ensinou à seus adversários políticos que isso não funciona. E esta tomando o troco. Está aprendendo como fazer para perder a governabilidade, perdendo-a. E enquanto isso, Lula usa seus nove dedos para se segurar lá. Talvez, o mindinho faça falta.

Lula se desfez. Não sei se, se vendeu. Mas certamente se desfez. Tudo aquilo que o colocou lá, não existe mais. Teve que ceder, ceder, ceder. E se fosse eu pastor, diria que vendeu à alma, mas não sou, se não, estaria milionário com algumas malas de dinheiro vivo, de dízimos doados.

O PT, que parecia ser o único partido do país, provou que o pluri-partidarismo nacional não existe. Afinal todos eles fazem parte de um único bloco.

O Lula e sua bandeira vermelha petista, para muitos era a cor da mudança e do povo no poder. Mas como disse um filósofo francês, cujo nome não me lembro: “quer corromper um homem honesto, dê-lhe poder”.

Hoje, não se vê mais a cor da bandeira, não está suja de lama, porque da lama ainda é possível fazer tijolo ou criar caranguejo. Está encoberta de dejetos fétidos, que não servem nem para adubo. Nunca mais ficará limpa. Está tão Collorida, quanto aquela do governo que o PT e o Brasil todo se opôs. A estrela, não é cadente, o sinal de esperança. É decadente.

Estamos tão emaranhados com a bandidagem que não dá mais para temer só o bandido malaco, aquele que anda com trejeitos, fala esquisita, português do mais chulo, mora em casebre, fede e se veste mal, e com a maior cara de pau te assalta em plena luz do dia, no centro da cidade.

Hoje, bandido fala o português correto, tentando ser o mais polido, como “vossa excelência...”, “nobre deputado...”. Veste terno. Usa perfume. Anda de carrão e mora em casas confortáveis. Mas ainda todos têm trejeitos e a cara de pau. Alegam sempre desconhecimento. Pergunto: como que ninguém sabe de nada e todo mundo sabe de tudo? Como que a senhora que falei lá no começo, diz que só entende de marketing, mas que de contabilidade não sabe, se para fazer um plano de marketing é preciso entender de contabilidade? Como que o presidente não sabe de nada, mas seu assessor direto está coberto de acusações?

Você está me cobrando as conclusões que disse que talvez teria.

Concluo que o próximo lançamento de marketing da Daslu será uma cueca para dois sacos. Um de dinheiro.

Por Fernando Katayama 14 julho 2005



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