A arena esta cheia. Uma expectativa do que há por vir. Vibrantes esperam todos para que tudo comece. Olhos arregalados. Suor que escorre pelo rosto. Roupas impecáveis não escondem o frio no estômago. O sol brilha, parece querer iluminar o grande espetáculo.
De um lado, ela toda dourada. Brilhos, cores, o predominante ouro. Capa vermelha. Essa roupa justa realça toda a beleza do corpo curvilíneo. É possível ver por de trás desta armadura dourada, toda a beleza da mulher. Toda sua delicadeza e sua fragilidade. Suas curvas são maravilhosas, há delicadeza e mistério. A suavidade da luz que é refletida e cria uma penumbra doce. Tudo isso não afasta o olhar penetrante. Forte e ao mesmo tempo tenro. Disposta ali, a enfrentar a fera.
Sem aparentemente sentir medo, impressiona com seu pequeno tamanho. Desarmada, parada espera, calmamente, o que virá.
Uma pesada porta de madeira é aberta. Sai de dentro um animal bufante. Gigante, com mais de tonelada. O nariz transpira ofegante. Um par de chifres. Músculos, e que músculos, se contraem. O rabo abana pouco convidativo e sua pata arrasta a areia.
Meteria medo em qualquer ser humano.
Ela continua ali, parada, a espera.
Como a areia do chão, todos estão sedentos por sangue, e pouco importa de quem seja.
Olham-se nos olhos. Talvez, prefeririam não entrar em combate. É um momento de diplomacia. Não há acordo. O enfrentamento é inevitável.
O silêncio é quebrado pela doce voz de Elis. Torna tudo mais belo e calmo.
O que é pura tensão se dissolve com a calma e beleza da música. O que era violento passa a ser lindo. Movimentos delicados, as curvas feitas, fazem parecer um balé. A câmera lenta mostra a velocidade do espetáculo. Tudo que é rápido é mostrado lento. Cada passo, cada desvio, cada giro. Rodopia em torno da fera, aquela pequena pessoa. Sente-se o temor.
A bela parece estar vendendo a fera. Ferido o animal forte não desiste. O sangue já pinga.
Por um instante há um silencio. Não há movimento. O ar pára nos pulmões. Nossos, deles de todos.
Ela se rende. O animal chifrudo percebe e ataca. A morte é eminente.
Um suspiro toma conta. Silêncio é a resposta, para uns a vibração da morte, para outros, o medo de morrer.
Esta é uma cena do maravilhoso filme de Pedro Almodóvar “Fale com ela”.
Contudo me indago sobre o que é isso tudo.
Seria o touro, o próprio diabo? Animal de cifres. Amedrontador. Grande. Seu rabo abana. Procura as fraquezas e ataca.Vive no caldeirão, rodeado de pessoas que tem ansiedade para a morte. Difere-se poupo do animal descrito acima.
Ela em seu papel assume seu lado masculino, deixa de lado a mulher para incorporar o homem aparentemente imbatível. Minutos antes havia corrido de uma cobra, logicamente objeto fálico, porem é salva por um homem, que por mais homem que seja, tem seu lado feminino mostrado, mas como todo protetor, enfrenta o réptil de algumas gramas.
Mesmo querendo mostra-se forte naquele momento, ela sente que ali, diante do touro, seu inimigo, algo é maior. Seus tormentos e angustias são mais fortes. O diabo se contorce dentro de seu coração. Sua alma não esta tranqüila. Sua mente confusa enxerga embaçado. Toda suavidade e beleza desaparecem. A Força some. O Medo transborda. O sangue que corria quente, gela. Medo.
Medo de seus traumas. Medo de sua vida. Medo de vivê-la inteira, intensa e por completo. Medo da felicidade que pode escapar das mãos. Medo de assumir suas próprias angustias. Medo de ser feliz.
Seu maior oponente esta no coração, o touro passa a ser pequeno.
Serve como fuga. Rende-se. Desiste.
Doa-se ao Diabo, que a leva, sem dó ou piedade. Inferno, casa dos covardes.
Fernando Katayama set/2004
De um lado, ela toda dourada. Brilhos, cores, o predominante ouro. Capa vermelha. Essa roupa justa realça toda a beleza do corpo curvilíneo. É possível ver por de trás desta armadura dourada, toda a beleza da mulher. Toda sua delicadeza e sua fragilidade. Suas curvas são maravilhosas, há delicadeza e mistério. A suavidade da luz que é refletida e cria uma penumbra doce. Tudo isso não afasta o olhar penetrante. Forte e ao mesmo tempo tenro. Disposta ali, a enfrentar a fera.
Sem aparentemente sentir medo, impressiona com seu pequeno tamanho. Desarmada, parada espera, calmamente, o que virá.
Uma pesada porta de madeira é aberta. Sai de dentro um animal bufante. Gigante, com mais de tonelada. O nariz transpira ofegante. Um par de chifres. Músculos, e que músculos, se contraem. O rabo abana pouco convidativo e sua pata arrasta a areia.
Meteria medo em qualquer ser humano.
Ela continua ali, parada, a espera.
Como a areia do chão, todos estão sedentos por sangue, e pouco importa de quem seja.
Olham-se nos olhos. Talvez, prefeririam não entrar em combate. É um momento de diplomacia. Não há acordo. O enfrentamento é inevitável.
O silêncio é quebrado pela doce voz de Elis. Torna tudo mais belo e calmo.
O que é pura tensão se dissolve com a calma e beleza da música. O que era violento passa a ser lindo. Movimentos delicados, as curvas feitas, fazem parecer um balé. A câmera lenta mostra a velocidade do espetáculo. Tudo que é rápido é mostrado lento. Cada passo, cada desvio, cada giro. Rodopia em torno da fera, aquela pequena pessoa. Sente-se o temor.
A bela parece estar vendendo a fera. Ferido o animal forte não desiste. O sangue já pinga.
Por um instante há um silencio. Não há movimento. O ar pára nos pulmões. Nossos, deles de todos.
Ela se rende. O animal chifrudo percebe e ataca. A morte é eminente.
Um suspiro toma conta. Silêncio é a resposta, para uns a vibração da morte, para outros, o medo de morrer.
Esta é uma cena do maravilhoso filme de Pedro Almodóvar “Fale com ela”.
Contudo me indago sobre o que é isso tudo.
Seria o touro, o próprio diabo? Animal de cifres. Amedrontador. Grande. Seu rabo abana. Procura as fraquezas e ataca.Vive no caldeirão, rodeado de pessoas que tem ansiedade para a morte. Difere-se poupo do animal descrito acima.
Ela em seu papel assume seu lado masculino, deixa de lado a mulher para incorporar o homem aparentemente imbatível. Minutos antes havia corrido de uma cobra, logicamente objeto fálico, porem é salva por um homem, que por mais homem que seja, tem seu lado feminino mostrado, mas como todo protetor, enfrenta o réptil de algumas gramas.
Mesmo querendo mostra-se forte naquele momento, ela sente que ali, diante do touro, seu inimigo, algo é maior. Seus tormentos e angustias são mais fortes. O diabo se contorce dentro de seu coração. Sua alma não esta tranqüila. Sua mente confusa enxerga embaçado. Toda suavidade e beleza desaparecem. A Força some. O Medo transborda. O sangue que corria quente, gela. Medo.
Medo de seus traumas. Medo de sua vida. Medo de vivê-la inteira, intensa e por completo. Medo da felicidade que pode escapar das mãos. Medo de assumir suas próprias angustias. Medo de ser feliz.
Seu maior oponente esta no coração, o touro passa a ser pequeno.
Serve como fuga. Rende-se. Desiste.
Doa-se ao Diabo, que a leva, sem dó ou piedade. Inferno, casa dos covardes.
Fernando Katayama set/2004
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