Thursday, November 17, 2005

Um por Sete

Ando perguntando para as pessoas que conheço, o que acham do comércio informal, dos camelôs, ainda mais agora que o Presidente da República, foi pego usando um dvd pirata e dos conflitos entre comerciantes, policiais e camelôs, que acontecem sempre nas proximidades da festa natalina, inclusive um, na semana passada em São Paulo.

Minha pergunta é bem simples, mas a resposta talvez não seja.

Pergunto simplesmente assim: “você prefere um camelô vendendo ou roubando?”

A primeira resposta, quase instantânea, e logicamente inclui a sua, é: vendendo! E a maior justificativa é: melhor vendendo que roubando.

Atingiu a incrível marca de 100%.

Contrariando à todos digo: roubando.

Explico.

Obviamente o comércio informal é uma conseqüência e não a causa, mas quero mostrar um ponto de vista menos conformado e patriarcal. Para analisar isso, é preciso olhar para o grande todo e não só para a pequena parte.

Como todos sabemos o comércio informal não paga os devidos impostos, o que já apresenta um roubo, uma vez que, o comércio legal, tem que pagar impostos, assim como eu e você. Mas não é só isso! Esse tipo de comércio faz a cadeia toda por trás dele se torne ilícita, aumentando assim, os delitos, crime e violência.

Olhando para o pequeno ponto ali na rua, é difícil de se imaginar que, custa em torno de R$ 80 mil reais, afinal, a rua, que é de todos, tem um só dono e para tê-la é preciso pagar.

O dono do ponto, por sua vez, paga a proteção. Subornam a polícia e órgãos fiscalizadores, já que os camelôs não pagam os impostos, compram e vendem sem nota e seus produtos são pirateados ou contrabandeados.

Vejam, os camelôs compram de contrabandistas, sejam eles paraguaios, chineses ou coreanos e colocam o país na lista negra das indústrias, que não querem mais comércio com o Brasil, porque não há controle sobre as marcas e produtos. O Brasil perdeu R$ 180 milhões para o mercado ilegal, só nos primeiros meses do ano. Mas isso não acaba ai.

Também compram de fornecedores que vendem seus produtos subfaturados, para que possam esquentar o dinheiro em offshores, é uma prática antiga de lavar a grana.

Porque só os paises subdesenvolvidos tem o comercio informal tão acentuado? Porque o melhor lugar para escoar as mercadorias, lavar dinheiro com produtos subfaturados são paises, onde a corrupção rola solta e o mercado ilegal é uma prática corrente.

Sendo assim, o comércio informal favorece transações ilícitas e fortalece o crime organizado.
Por outro lado tem o comerciante legal. Aquele que tem um comércio e sofre a concorrência desleal do comércio informal.

Imagine que você é um comerciante. Tem sua loja, vende produtos com pequena margem de lucro e emprega dois funcionários, os quais você, paga os devidos direitos. Mas como disse a pouco, tem o camelô bem ali na sua frente, vendendo os mesmos produtos, adquiridos de formas escusas e sem pagar os impostos. É impossível concorrer com ele.

Então você não consegue vender, e manda embora um dos seus funcionários. Mas já que você vende menos, você compra menos, e então o seu fornecedor, faz a mesma coisa que você, e manda embora dois funcionários, afinal ele vendia pra você e para seu vizinho, que também mandou um funcionário embora. Mas o fornecedor também vende menos e compra menos do fornecedor dele, que este por sua vez, manda embora três funcionários.

Só ate aqui, sete pessoas perderam o emprego e os impostos recolhidos foram menores, enquanto isso, um só camelô na banca, aumentando o crime organizado e sonegando imposto.
Mas se fosse ao contrário? Não tivesse o camelô, você venderia mais e teria que contratar mais um funcionário. O ciclo se inverteria.

Será que ainda você prefere o camelô vendendo?

Por Fernando Katayama 17 nov. 05

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