Escrevi meu último texto, seguindo a sugestão de uma amiga. Queria um texto brincalhão, sem a mínima seriedade. Descompromissado. Não era para fazer pensar. Não tinha intenção de polemizar. Não queria abordar temas de maior profundidade. Não queria falar de política, muito menos de crise. Nem pensar em economia. Escrevi sobre as coisas triviais que permeiam nosso mundo. Um texto totalmente despretensioso. Escrevi então “Trivialiadades”, fugindo da minha última tendência: a crítica à nossa sociedade, ao modelo político e ao que chamo de, “espertismo”.
Tive poucos comentários a respeito, e não esperava coisa diferente. Eu jamais imaginei, que esse tipo de texto, trouxesse algum tipo de incomodo, inconformação ou protesto. Já escrevi cada coisa pesada sobre nossa sociedade, sobre o espírito humano ou coisa que o valha, e nunca tive repercussão.
Meu amigo Bill ou Willy, que publica alguns de meus textos, me enviou um e-mail, me contando o que ocorrera com o texto “Trivialidades” em seu site. Brincalhão e espantado disse:
“Hoje pela manhã publiquei suas trivialidades no site.
Após a terceira visita recebi um telefonema de um amigo, juiz, inconformado com as expressões "bunda", etc. em um site jurídico. Fui obrigado a tirar. Um recorde! O artigo ficou no ar por apenas 17 minutos!”.
Espantoso.
Respondi à ele, que infelizmente, estava sendo covarde. Que não deveria ter cedido à pressão do tal magistrado. Porém é uma decisão dele, e a respeito e muito. Mas discordo inteiramente do tal juiz.
Fiquei espantado com a atitude do Excelentíssimo Juiz, que gastou tempo, para comentar um texto tão despretensioso.
Pergunto-me qual é a diferença entre os sites jurídicos e outros. O que será que os advogados, juizes e promotores têm de tão diferente do resto da população. Semi-deuses, talvez?
Para mim, essencialmente, os humanos são iguais.
Variam em 1 gene da minhoca e somos todos parentes dos macacos.
Como os macacos, alguns são mais fortes, outros mais fracos, outros maiores, outros menores. Uns com pêlo na “bunda*” e outros de “bunda*” pelada, mas todos macacos.
E nós todos humanos e diferentes com suas peculiaridades como cor de cabelo e da pele, o idioma e origem. Uns são analfabetos e outros não. Uns fedidos e pobres outros podres de ricos. Uns honestos outros desonestos. E todos humanos.
O que será que se passa na cabeça de um Doutor Magistrado ao se sentir inconformado com a expressão “bunda*”, só porque é um site jurídico? Esquece de ver que, onde o texto é colocado, faz parte de um espaço destinado aos debates e ainda por cima, privado.
Deu-me a certeza da censura, disfarçada, camuflada, encoberta pelo “manto sagrado da justiça brasileira”.
Sugiro ao referido Juiz, que reveja suas premissas.
Acredito que já escrevi coisas que valiam mais à pena serem discutidas por um magistrado, do que se a “bunda*” esta ou não no texto, e se esse texto esta ou não em um espaço destinado a assuntos jurídicos.
Talvez a atitude desse tal juiz, espelhe a atual situação do poder judiciário brasileiro. Instituição que deveria servir para a justiça esta em total descompasso com o mundo contemporâneo, firmada em valores não mais sólidos. Parada no tempo ou talvez pior, andando para trás.
Nossa Justiça esta desacreditada. A senhora Justiça, aquela que tem a venda nos olhos e balança na mão, esta enferma.
Deve ser o castigo.
Ficar a vida toda com os olhos vendados, segurando uma balança que de um lado tem merda e do outro também, sendo estuprada dia após dias por juizes, promotores, advogados sem a menor piedade. E não ter esperança de que venham salvá-la, mas se vierem um dia, quem será que fará a justiça por ela?
O sistema judiciário nacional é uma calamidade. Um antro promíscuo de seres vesgos, cegos, surdos, mancos e débeis, porém cheios de si, sentindo-se todos poderosos, deuses onipresentes e indestrutíveis.
Será que o tal juiz telefonou ao senhor Presidente da República quando este, disse que caixa dois era usual e corriqueiro, e que todo mundo fazia? Será que este mesmo juiz disse à Prefeitura que ao institucionalizar o “camelôdromo” estava institucionalizando o mercado paralelo e contra-bando? Será que ele não ficou tão inconformado ao ver o então presidente da Câmara se pegando com uma garota na capa dos jornais mostrando as partes íntimas (eu preferiria xoxota ou calcinha, mas para não ofender...)? Será que não ficou escandalizado, ao ver a notícia do Juiz, em Fortaleza, aquele que deu um tiro à queima roupa no segurança, recebeu aposentadoria integral e só? Ou será que quando é com a classe, fechamos os olhos? E nem entrarei no mérito da desigualdade social que nos assola.
Será que não fica inconformado do sistema judiciário no país ser um dos piores do mundo? Será que como juiz e inconformado, não poderia somar à sociedade de forma concreta, ao invés de ficar censurando espaços democráticos?
Pergunto também se ele nunca viu uma bunda*? Se nunca comprou uma revista de mulher pelada? E não me venha dizer que são pelos artigos! Pergunto se ele nunca foi à praia, e viu a gostosona jogando frescobol, de biquininho, balançando os peitos e chacoalhando os “glúteos”, com a pele lisa e dourada de sol? Um puro convite à perdição carnal, de tão gostosa que seria aquela refeição! Não, ele fechou os olhos e ainda gritou “que absurdo!”. Deve ser inveja.
E vou mais longe, nunca tomou vacina!? “No braço ou no Glúteo Máximo”, teria dito o doutor. Quando jovem ou mesmo velho, nunca levou “aquele pé na ‘bunda*’”! Não... Bunda* não faz parte do vernáculo do tal doutor. É uma pena.
Sugiro mais uma vez, que o Excelentíssimo Doutor, olhe mais para a própria bunda e limpe-a, ao em vez de ficar olhando para o rabo dos outros. Mas certamente sem quebrar o decoro.
[como toda a regra tem suas exceções, existem sim, no país pessoas que lutam, mesmo que como Quixotes, para a melhoria do sistema. À esses, nossos sinceros e admirados aplausos.]
*Dicionário Houaiss
Bunda
Datação 1836 cf. SC
Acepções
*Dicionário Houaiss
Bunda
Datação 1836 cf. SC
Acepções
■ substantivo feminino 1 região glútea; as nádegas 2 Derivação: por extensão de sentido. Uso: informal. Conjunto das nádegas e do ânus Ex.: limpar a b. 2.1 Derivação: por extensão de sentido. Regionalismo: Brasil. Uso: tabuísmo. O ânus Ex.: aplicou-lhe um clister na b. 3 Regionalismo: Angola. Cintura, anca ou nádega
■ adjetivo de dois gêneros Regionalismo: Brasil. Uso: informal, pejorativo. 4 ordinário, de baixa qualidade; sem importância ou valor Ex.: um livro b.
Uso
a pal. está registrada no Novo Dicionário da Língua Portuguesa (1836), de Constâncio, como um angolismo, e no Grande Dicionário Português, de frei Domingos Vieira (1871), na acp. de 'nádegas de gente alcatreira', vale dizer, 'nadeguda'; em Portugal, entre os usuários atuais da língua, tal voc. não é desconhecido, mas não é empregado.
Por Fernando Katayama 05 nov.05
Uso
a pal. está registrada no Novo Dicionário da Língua Portuguesa (1836), de Constâncio, como um angolismo, e no Grande Dicionário Português, de frei Domingos Vieira (1871), na acp. de 'nádegas de gente alcatreira', vale dizer, 'nadeguda'; em Portugal, entre os usuários atuais da língua, tal voc. não é desconhecido, mas não é empregado.
Por Fernando Katayama 05 nov.05
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