Saturday, June 02, 2007

Diferenca das Bananas

Moro fora. Sai do Brasil em meu exílio espontâneo. Resolvi deixar as terras brasileiras como Cabral e ir ao desconhecido. Diferentemente de Cabral, que chegou coberto de roupa em um calor invernal, eu cheguei de calças curtas e chinelos de dedo em uma tempestade de neve.
Não é a minha primeira vez fora do Brasil. Dele, já sai muitas vezes, mas nenhuma teve o mesmo objetivo desta vez. Aqui, não é o mundo perfeito. Aliás é muito imperfeito como qualquer lugar. Mas o que é que difere tanto do Brasil que deixei lá atrás?
Não falo dos amigos e família que ficaram, porque esses são realmente insubstituíveis, seres singulares em suas qualidades e defeitos. Não falo também da rica cultura culinária que temos, e eu particularmente, gosto muito. Não há comparação com as nossas bananas e as bananas daqui; yes! Nós temos bananas! Não ouso tocar no assunto das mulheres, as mais belas delícias do planeta estão lá. Ainda mais se tiver na praia. Aquele biquininho, aquela marquinha de sol a praia em si, é o que há!
São coisas que nem o mais louco ou bobo contesta. E não dá nem pra sola do sapato comprar isso com o resto to mundo.
Posso falar de outras coisas do Brasil. Como o famoso “swing” brasileiro, e pelo amor de Deus, não confundam esse “swing” que estou falando com aquele outro “swing”1. Do jeitinho de fazer as coisas e para dar jeito nas coisas. Posso falar também de muitas outras coisas que são particularmente peculiares ao país. Posso descascar o abacaxi Brasil e dizer tudo o que todo mundo já sabe. Cairiam as cascas de corrupção, de malandragem, falta de educação e certamente de falta de vergonha na cara. Cairiam também cascas podres dos três poderes. Entupiriam o esgoto com de dejetos parlamentares. E assim eu iria, me repetindo em cada letra.
Então não o farei.
Contarei, à vocês, coisas que talvez já sabiam ou que talvez não.
Aqui, as taxas que pago são altíssimas. Está lá estampada no recibo, e as vezes, a maioria delas doí ao ver. Pago também, já descontado na fonte, um outro tanto. E doí mais ainda. Mas quando doí, ligo 911. E acreditem os caras chegam em 5 minutos. Ou vou ao hospital e lá sou atendido. Espero, é verdade, mas sou dignamente atendido.
Tem sempre um cara de uniforme azul por perto. Ele é chato, não deixa beber e dirigir, dá multas e faz a lei funcionar. Mas ele não faz muito não, não tem crime.
Toda criança vai a escola. Não sei se são as melhores do mundo, mas certamente eles aprendem alguma coisa. Mas todos vão. E papai e mamãe que é preocupado com a educação dos filhos não precisa pagar a mais para tê-la.
Pequenas coisas do cotidiano também são diferentes. Coisas que parecem estúpidas, insignificantes, ridículas mas fazem a diferença na sociedade como um todo. Os carros param para os pedestres. Os pedestres, na maioria das vezes esperam o sinal abrir para atravessar na faixa. Não ultrapassam na faixa dupla. Não jogam papel no chão, tem lixo, e separado para a reciclagem. Esperam a vez na fila. Param no sinal vermelho, mesmo a noite, quando não tem ninguém, afinal não tem malandro pra assustar.
Parece pouco né? Aqui cada um faz a sua parte e não reclama da parte do outro. Tudo parece funcionar bem. Essa é a grande diferença. Cada um faz a sua parte . Para que funcione é preciso que cada um faça a sua e não empurre a responsabilidade para o outro. E no Brasil sempre a responsabilidade é do outro e nunca nossa.

Notas* : 1 Swing também é conhecido como troca de casais no submundo do sexo.
Música: Get It Together - Seal
Por Fernando Flitz Katayama, Toronto, On Canada 2 June 2007

1 comment:

Pedro S said...

é... é e não é, my brother.
eu, particularmente, tô feliz de estar de volta, e agora morando em recife/olinda, terceiro mundo na veia. Sinto saudades do chá verde da déli, da union square, do Mestre João Grande, do central park, do Lower East Side. Não muito mais que isso.
Como ce tá? não rolou o canadá?
Abraço!