Nunca fui lá muito bom com números. Matemática era um encalço nos tempos de colégio. Essa tal de matemática sempre me deu dor de cabeça. E piorava a cada dia. Fazia minha vida no colégio um inferno. Mesmo que em algumas vezes, eu tenha tido criativas soluções para aquelas equações estrambólicas. Logaritmos, números primos, terceiro grau, frações e inteiros. Sinceramente, não faziam muito sentido. As duras penas aprendi.
Apesar de detestar essa tal de matemática, aprendi e tem sido útil. Como já disse anteriormente, muitas vezes para mim, dois mais dois não são quarto mas dá um bom sessenta e nove. Na matemática aprendi sobre a média. Ponderada. Absoluta. A média. A média soma-se tudo e divide por dois, tem a média absoluta. Ou soma-se tudo e divide-se pelo número de itens, tem a média ponderada. Foi nesse tempo de colégio que eu aprendi também o que era a classe média, nas aulas de geografia. Era o que ficava entre a Classe A e a Classe C. E engraçado, não tinha nada da matemática que eu estava aprendendo.
Mas venho dizendo, faz um tempo já, que a classe média do Brasil esta sumindo, e um estudo da Unicamp prova o que estou falando, mas quero saber quais os parâmetros para a criação desse tal índice, sendo que eu não concordo. O Brasil é um país de duas classes apenas. Os ricos e os podres. Você esta em uma dessas duas, mas podre você não é. Certamente sua resposta a minha afirmação será me dizer: eu não sou rico.
É ai que começam as classificações para os sub-tipos de classificação econômica. AA+, AA, AA-, A+, A, A-, BB+, BB, BB-, B+,... C, C-, CC-, D-, DD-..., e note, à partir da C não tem sinal de +. Começa C e decresce. Mas isso tudo é balela. Podemos ter A, B e C, e só. As derivações são conseqüência do fracionamento do mercado, criado pelos gurus do marketing, para poder trabalhar melhor o comportamento do consumidor. E todo mundo engoliu. Mas o que vemos na realidade não é assim. É A, B e C.
“A” são os ricos, todos os ricos, “C” são os podres, todos os podres. E “B” seria a soma de A e C dividido por dois. Mas não é bem assim que acontece. B não é a media ponderada ou absoluta entre a riqueza e a pobreza.
Acontece que a chamada classe média sumiu! Simplesmente não existe mais. Se você paga escola para filhos, ou estudou em escolas particulares, vai ao shopping fazer compras, vai ao cinema, churrasco com amigos, um jantarzinho a luz de velas com a patroa, viagem à praia nos feriados e talvez para fora do país, você é rico. Se não, é podre. Mas você me diz que é classe média pelo seu faturamento mensal, mas no final do mês, acaba no zero ou devendo. Você não é classe média, é pobre, mas pensa que é classe média, afinal quer viver como rico, mas paga as contas como pobre. E lógico, tem os muito mais pobres que ricos.
O resultado disso é a tensão social que vive o Brasil. O atrito gerado pelo BMW que passa na porta da favela ou do morro, que os miseráveis assistem aos desfiles de luxo da Zona Sul. A malandragem que desfila pelos Jardins, em suas motocas envenenadas, em busca de uma vítima em traje de gala. O proveito da bandidagem no desespero paterno diante de seus 5 filhos e da esperteza juvenil. O terror tocado pelos grupos criminosos, recheados de seres desprovidos de perspectiva. Do carro blindado no semáforo assistindo ao show de malabares, das ramelentas pulgas das sociedade marginal ou ver da janela do seu luxuoso apartamento, o maravilhoso-miserável cômodo 3x3, para cinco, feito de placas, madeira e um pedaço do outdoor estampado a cara do último deputado da cidade.
A tensão social ainda consegue ser sustentada pela sociedade como um todo, podres e ricos, mas a guerra não declarada já é oficial. E a solução dessa equação crônica, parece não existir. Mas a solução é simples: vontade política, não só dos péssimos governantes e políticos, mas de toda sociedade, na qual eu e você estamos inclusos.
Música: Rio 40 Graus - Fernanda Abreu & Chico Science
Por Fernando Flitz Katayama, Toronto, On Canada 30 April 2007
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