Certa vez, há muito tempo atrás, no auge da minha adolescência nem tão rebelde assim, fui acampar. Eu e meus comparsas tínhamos esse hábito de nos metermos em lugares longínquos e ermos. Longínquos e ermos para nós, afinal tudo era feito no melhor estilo, pé-ônibus. Quanto mais longe, ermo, sem estrutura, melhor.
Numa dessas excursões da rapaziada classe A da cidade, nos deparamos em um camping. Resolvemos ficar. Fizemos amigos naquele verão, e amigas, que passaram a ser mais importante que os amigos novos, uma vez que a testosterona estava no pico. Enfim, tempos de diversão em meio a natureza. Tínhamos também as fogueiras e rodas de violão, cantando as músicas do Legião e Paralamas, os novos rebeldes desse tempo. Em uma dessas rodas, apareceu um garrafa de cachaça. Não era da boa certamente, mas era cachaça. Foi o pior fogo que tomei na minha vida. Vi o mundo de uma perspectiva imiaginável aos olhos sóbrios de hoje. Chamei Jesus de Genésio. O dia seguinte, foi pior que a noite anterior. A ressaca secara minha boca e minha cabeça parecia um festival de marteladas. Inesquecível, tanto que conto há agora, depois de uns quase 20 anos. Desde então, não gosto de cachaça.
Mas parece que esse meu anti-gosto não é compartilhado com o Lula. Talvez agora ele só tenha mudado o rótulo da garrafa. Lula vem enfatizando o desenvolvimento do bio-combustíveis, o que, de um ponto de vista é louvável. Afinal incentiva a pesquisa e desenvolvimento, coisa meio lenta no país. A política do bio-combustíveis de Lula é reconhecida em todo o mundo.
Lobistas do óleo divulgaram recentemente uma pesquisa da ONU, mostrando que o bio-combustível já afeta o mercado antes mesmo de se tornar uma realidade, menos virtual. Nesse relatório, afirma-se a alta nos preços dos alimentos.
É de extrema importância o desenvolvimento de novas tecnologias para os combustíveis uma vez que o petróleo esta com seus dias contados. Precisa-se desenvolver combustíveis que não só impulsione os veículos e a indústria, mas que também não piore o aquecimento global, e ainda por cima gere empregos.
Esse é meu medo com o álcool de Lula. Não só o que ele bebe, mas o projeto Pró-álcool. Todo mundo vê a curto prazo, uma coisa boa. E eu vejo a longo, uma coisa ruim. Álcool precisa de cana. Yes! Nós temos cana. Para o plantio da cana-de açúcar, é preciso terra, muita terra e de novo, Yes! Nós temos terra. Além de que a tecnologia do etanol como combustível é nossa. Então porque não?
Porque o grande problema do Brasil é e sempre foi, e parece que sempre será, a péssima distribuição da renda. Foi assim nos tempos da Coroa. Do café. Do primeiro ciclo da cana-de-açúcar. Da borracha. Dos grandes latifúndios. E hoje dos poucos aglomerados de ricos.
O Pró-álcool traz de volta o risco do latifúndio. Terras e mais terras cheias de cana, produzindo milhões de litros de álcool outros milhões de litros de vinhoto, alguns empregos para bóias-frias, e pouquíssima distribuição de renda.
O comunista Lula, a favor da reforma agraria, da distribuição de terra, padrinho do MST, a favor de tomar a fazenda do FHC, sumiu! Esqueceu-se das teorias comunistas, que talvez tenha aprendido, ou só tenha ouvido falar no disse-que-me-disse. Parece não ver que o Brasil esta parado no tempo. Ficou na lembrança para a lembrança o slogan, “país do futuro”, para voltar a ser o grande latifúndio do mundo. Tudo porque falta dar fermento a classe média que hoje é inexistente, faze-la crescer e educa-la. É a única chance do Brasil começar a se movimentar.
Essa história do etanol me deixa preocupado. O relatório da ONU parece fazer sentido uma vez que, não comemos cana, a não ser rapadura e açúcar, mas bebemos, como cachaça ou garapa com pastel na feira.
Eu não bebo e não gosto de cachaça. Mas o Lula continua tomando a dele.
Música: Sera - Legião Urbana - para meus amigos que cantávamos juntos envolta das fogueiras.
Por Fernando Flitz Katayama, Toronto, On Canada 8 June 2007
3 comments:
Época de exageros.... com o passar dos anos vc começa a ficar mais exigente, com o gosto mais refinado, agora só toma "Romane Conti" está na moda vinho....
De vez em quando eu ainda tomo uma pinga de rapadura na cachaçaria....
Abraço
Tutu
Não sei pq,acho que já ouvi essa história mil vezes,mas nunca me canso.Vcs aproveitaram muito!!!
Até as ressacas!
Qto ao Lula meu amigo,o que é classe média mesmo?
Mais um tempo e só teremos o riquíssimos e o pobrinhos.Adivinha aonde vamos parar???
Beijo,Mariana.
Japa, muito legal o texto e lembrar de uma epoca muito feliz e marcante na minha vida.Qto ao Lula, to com vc.E se continuar assim espero ficar do lado que vai mudar isso e crescer.Beijão irmão
Carlinhos
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