Sunday, April 22, 2007

Brasília e o Fiat 147

Tem uma fotografia lá na casa de minha mãe, guardada no álbum, a mais de sete chaves. Pouquíssimas pessoas já viram essa pequena foto. Foto do tempo da máquina fotográfica manual e processo químico de revelação. É lá dos anos 70. A foto é de um formato não muito usual nos tempos de hoje, como 13X15 cm. Coisas de setenta. É uma foto minha. Sou eu lá no pequeno pedaço de papel, colorido por reações químicas. Sorrindo, com meu cabelão ondulado, e acreditem eu usava cabelo comprido e era ondulado, estava eu lá dirigindo a Brasília Amarela de minha mãe. Na verdade eu estava mesmo é brincado de dirigir, tinha, se muito, uns 3 anos de idade. Mas também tenho outras lembranças dos carros de minha infância. Um deles, foi um Fiat 147, vermelho, que meu pai comprou e até hoje eu não sei o porquê. Esse carro foi responsável por engolir meu carrinho de ferro. Nunca mais revi o carrinho. Foi com esse carro, que não passava dos 80km/h, o que para a época era bem razoável, minha mãe e meu pai, inventaram de ir ao interior de Minas, Furnas. Com o espírito aventureiro fomos nós para lá. Levou um tempo mas chegamos, e melhor voltamos.
Meu pai resolveu vender depois dessa viagem. E hoje em dia nem a Brasília e nem o 147 são fabricados.
Brasília, foi o nome dado ao carro, para celebrar Brasília. A Capital do país no meio do nada. Brasília faz hoje 47 anos. Não se sei para orgulho ou desespero. A cidade construída com os projetos de Oscar e Lúcio. Encheu o sertão de Candangos e Porcos. Os Candangos povoam as cidades satélites e os Porcos deveriam ficar mais por lá, mas só vão as terças, quartas e quintas, até o meio-dia.
O que deveria ser o um exemplo para o país e para o mundo, de que devemos arriscar, enfrentar as dificuldades e construir algo bom, esta mais para um exemplo à não ser seguido. Brasília, talvez nunca tenha tido a vocação de motivar pessoas a fazer algo construtivo. Talvez, seja mesmo a filha de proveta de JK, cercada de conchavos e troca mesquinhas, encalacrada em seu DNA. Talvez seja o marco de concreto da corrupção secular brasileira.
Agora com o governo Lula, a máquina parece ser mais corrupta. Talvez seja mesmo. Mas não elimina a podridão desde os tempos da terraplanagem, quando lá nem existia. Lula só piorou. Em seu sonho da conquista do Planalto e a tomada do Brasil, ele só não contava com o seu egocentrismo, mas talvez já imaginava nos benéficos próprios.
Brasília era para ser a cabeça no coração do Brasil. Era para ter o respaldo de estar centrado, no meio do Planalto Central. Geograficamente equidistante. Longe dos grandes centros e longe das pressões sociais. Livre para poder governar em favor da sociedade. O centro político no centro do Brasil. É nobre o propósito.
Mas política se faz com políticos. E os políticos brasileiros não governam para o Brasil. Fazem em prol de alguns grupos seletos. E são eles que dirigem Brasília.
E eles pilotam Brasília com a mesma seriedade e precisão quando eu dirigia brincando a Brasília de minha mãe parada na rua. E conduzem o Brasil a velocidade máxima de crescimento, como o espetacular Fiat 147 vermelho de papai. Mas eles ainda têm uma grande diferença com os dois carros: eles não foram descontinuados da linha de produção e substituídos por modelos melhores.

Música: Pelados em Santos - Mamonas Assassinas - Mamonas Assassinas - 1995
Por Fernando Flitz Katayama, Toronto, On Canada April 22 2007

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