Estava pensando cá com meus botões sobre a democracia. Descobri que sou um idiota sonhador. Um “utopista”, se é que essa palavra existe, ou acabei de inventá-la. Descobri que Democracia é um sonho abstrato. Nada mais que pura filosofia de final de noite, bêbado em botequim, sendo varrido com as cadeiras já para cima. Nada nos fóruns gregos. Democracia é um pensamento abstrato, uma filosofia de livro velho e amarelado e como disse, uma utopia.
A realidade dura e crua é que vivemos mesmo sobre o guarda-chuva das ditaduras, impostas as duras penas à nós.
E tudo começou com um sujeito que repartiu a Terra em 24 pedaços. Todos de 15 graus. Inventou o relógio, não o tempo. Vivemos a servidão ao Tic e a escravidão do Tac. Depois que inventaram os ponteiros e depois os digitais, estamos sempre amarrados nas horas. Hora para isso, para aquilo, para tudo. Comemos, dormimos, acordamos em função desse tal relógio.
Estamos também sob a Ditadura do PC. Não o Paulo César, conhecido por nós, como o cabeça do Collor que morreu pelado no motel, mas o Personal Computer. Tudo é o computador. Máquinas que fazem computadores são controladas por computadores. Nós, vivemos com os nossos PC’s, e eu mesmo, me sinto pelado sem o meu. Dependemos dessas malditas maquininhas. Para trabalhar, para divertir, para comunicar e até para escrever esse texto.
Tem uma pior. O celular.
Maldito o cara que inventou esse troço. Agora, quando alguém te liga, você é obrigado a atender a porra do telefone, se não o cara, acha mil coisas, menos que você não quer falar com ele, que você ta no banheiro, ou que ta dando uma bela de uma trepada e ele esta sendo o maior empata foda! Não... Você pára tudo, porque o celular tocou, e olha desesperado para ver quem é que esta chamando.
Mas não só isso. No mundo ocidental contemporâneo, temos ainda a ditadura da felicidade. É... Para ser feliz é preciso ter: um emprego, de preferência, não num trabalho que goste, mas um de status social com valor agregado; um carro na garagem, se for rico, um carrão, se for podre, pode ser um carrão velho. Uma casa. Uma mulher em casa, e outra fora. Filhos. E um cachorro ou um gato. Pronto, assim você é feliz. Simples assim. E nem falei do medonho “american way of life”, que é horrível!
Para nós homens contemporâneos, é pior ainda. Temos que ser amáveis e amantes. Ótimos nos dois casos. Amáveis com nossas amantes, compreensivos e sensíveis. E ainda temos que ser os melhores amantes! E para os machões latinos, têm que ter duas amantes, comer todas e ainda dar três sem tirar. É a ditadura do sexo.
E as mulheres então, estão presas sob os padrões de beleza estabelecidos por um gay, que não gosta de mulher. Acha que mulher tem que ser um fio, magrela. Sem ter carne para darmos “a pegada”. Tem que não ter nada. Mas ai, um outro que diz: tem que ter peito de tal tamanho, quadril com tantos centímetros, bunda assim, bunda assada. E as mulheres correm atrás, se não serão as feias para sempre.
Não importa como façam. Plásticas, lipos, silicones e nem que morram bulêmicas e anorexias. Tudo para agradar um bofe-gay. Porque homem mesmo, não ta nem aí para a celulite.
Fiz um review em minha coleção, já amarelada, de revistas de mulher pelada. Algumas com páginas coladas, vi uma a uma, e reparei na mudança. Naquela época, acho que era mais natural. Cada mulher tinha seu próprio peito, mesmo que esse fosse meio muxibinha, ou a bunda meio grande. Pareciam ser mais gordinhas, por mais magrinhas que fossem. Todas peladinhas, mas com suas individualidades intactas. E o computador não arrumava tudo, para nos matar de tesão ao abrir a revista. Já morríamos antes. E era o padrão da época e fora diferente em outros tempos. Hoje parecem que comparam os peitos na liquidação. Ditadura da beleza.
E eu insisto em falar em democracia.
[música do texto: Você é Linda – Caetano Veloso]
Por Fernando Katayama New York, NY, 23 nov. 06
Thursday, November 23, 2006
Ditadura da Democracia
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment