Sunday, December 11, 2005

350

Em meu último texto o campeonato não havia acabado. Agora já sabemos que o “corintia” foi campeão. Sabemos quem caiu e quem não caiu. Sabemos também que o Dirceu caiu, mas a novela não acabou.

Parece coisa de mundo-árabe mas não é. Ônibus é incendiado e pessoas morrem. Um ataque terrorista. No contra ataque, matam quem ateou fogo. Justiça-Bandida. Choca o país. Choca o país? Choca nada! Nem Zé, nem Mané, nem Pelé. Nada mais choca. Só a galinha e de sítio.

Temas horripilantes não chocam mais. O cotidiano perverso já nos dominou e convenceu-nos da banalidade. Seja da vida miserável de uns quanto a “belíssima” vida milionárias de outros. Nos convenceu do tráfico, da sonegação e do estupro. Já nos convenceu do mundo cão.

Antes assustados, víamos os telejornais com cenas muçulmanas-xiitas, explodindo ao vivo, carros-bombas e queimando retratos do macaco branco-disléxico-norte-americano envolto a sua bandeira. Achávamos dois loucos. Um de turbante e outro de gravata vermelha. Que loucos! Agora nos perguntamos, quem são os loucos. Loucos devem ser os sãos.

Depois do Ônibus 174, segue a continuação do filme, Ônibus 350. Será que conseguiríamos contar a história da raiz dessa barbárie? Talvez precisássemos fazer em série de tão longa.

O Ônibus 350, é o retrato do Rio. Rio que já foi capa de revista. Rio que já foi das mais belas bundas dos cartões postais do mundo. Rio que serviu de inspiração ao Mestre Jobim. Agora o Rio é a amostra visceral do cotidiano brasileiro.

Políticos que discutem coisas de muito valor, como se o cartão postal pode ou não ter bunda! A polícia mata mais que bandido e ninguém sabe onde começa um e acaba o outro. Lá não é possível separar a favela da cidade. Ou será que a cidade é a favela? Cristo esta de braços abertos achando que esta sendo assaltado.

Ônibus 350 mostrou que nos vivemos o estado do terror. Nosso terrorismo aqui é dos mais diversificados meios e tipos. Temos terroristas no Planalto Central até o Palácio do Catete. Usam todos paletós e gravatas, e se tratam por “ilustríssimo. Temos terroristas de fardas. Temos terroristas sem fardas mas com sirene em carro civil. Temos terroristas de chinelo de dedo e bermudão, que se tratam por: “fala ae, Mano!”. E temos o terrorismo branco. Terrorismo branco é como arma branca, não faz barulho, não dá para ver direito, não sabemos quem são os terroristas e nem se a uma célula formada. Mas há. Chamo de terrorismo empregatício. Ser refém do seu emprego, porque sabe que não pode sair dele, por mais mal que te faça. É constante a ameaça.

350, mostrou que a lei, dos fora-da-lei, é lei.

Por Fernando Katayama 11 dez. 05

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