Tuesday, August 30, 2005

Desaprendendo com O Aprendiz

Hoje, saiu em um caderno especial, uma matéria que falava sobre o “game-show” do Roberto Justus, “O Aprendiz”. Reforçou minha opinião sobre esse assunto. Desde o primeiro episódio do primeiro show, venho dizendo que isso é um equívoco.

Temo porque o mundo anda desprovido de senso crítico. Mais essa baboseira da televisão é empurrada goela à baixo das pessoas. Se bem que merecem afinal, assina o cabo, que você pode ter mais de cem canais à escolher.

Mas o que me faz temer é que todo mundo acabe acreditando que é assim que mede se o sujeito é um bom profissional ou não. Se esta apto à enfrentar o mundo dos negócios ou não. Mas não só isso! É a pura depreciação do homem de negócio. Do estrategista.

Estratégia, a palavra mais estuprada do vocabulário corporativo, confundia e erroneamente dita para ações. Você viu lá, no showzinho, o cara dizer assim: “nossa estratégia foi de abordar as pessoas na rua...”, abordar as pessoas na rua é ação, determinada pela estratégia, previamente definida!

Dá nervoso ver isso, principalmente com o atual estado do Estado brasileiro, sem estratégia, sem administração, sem governo e sem ação.

Os próprios participantes, na reportagem do jornal, assumem que aquilo é só um show, e o que manda é o índice de audiência. Não medem a capacidade intelectual, o potencial nele inserido ou o melhor para determinada função.

Outro dia fui a uma dinâmica de grupo. É eu participo desse tipo de coisa. Reles mortal tem que ser submetido a essa invenção, que nem o RH sabe explicar com clareza como isso funciona. Se alguém, que ler esse texto souber, me explique pelo amor de deus! Nem vou entra no mérito da coisa em si, vocês já podem imaginar o que é que eu vou escrever daquela merda.

Mas o que eu ia dizer é que lá havia pessoas de nível sócio-cultural alto, pós-graduadas, até com 2, com 2 idiomas e tudo mais, mas achavam as “dicas” do Justus boas. Dá arrepio de escrever isso.

As dicas eram boas?! Quem da dica é rotulo de leite Moça!

Meu deus! As pessoas lá, sofrendo um processo seletivo, da pior qualidade, semelhante ao que o cara faz na televisão, acham que podem usar as “dicas” que o sujeito fala na TV?

É preciso ter critica e não engolir tudo!

O Justus sabe muito bem mesmo é se vender. Ficar em evidência e comer as gostosas do momento, se bem que ai, parabéns para ele. E mais nada.

Ele não ta nem ai se o cara que vai lá pro grupo dele é bom ou não. Faz parte do contrato. E se o cara for pedante, põe ele para tirar Xerox, no cantinho da sala, afinal quem paga o “salário” não é o Justus, é o patrocinador.

O Brasil precisa entender o momento que esta passando. Precisa inovar seus métodos de recrutamento, tanto no setor privado como público. Precisa investir em talentos. E tentar, a todo custo, segurá-los aqui. As universidades e indústrias americanas e européias estão parecendo o Real Madri, que só tem talento brazuca.

Nada adianta ficar copiando os modelos já existentes, afinal o Brasil é um país peculiar. Aqui a banana nanica é a maior. Precisamos criar os nossos modelos.

Mas talvez o velho Chacrinha esteja realmente certo: “Alô, Terezinha, na televisão nada se cria, tudo se copia”. E todo mundo imita a televisão.

Pena que talento é nato e a reprodução é impossível.

Por Fernando Katayama 30 Agosto 2005

Thursday, August 25, 2005

A Atemóya

Fui à feira no último sábado. Essas feiras de rua, tradicionais em cidades do interior, aqui na minha cidade, ainda existem algumas. Lógico que estão perdendo espaço para os hipermercados e tudo mais, mas ainda resistem bravamente à mudança. Logo pela manhã, bem cedinho, começam a chegar os caminhões Mercedes Azul, 78, abarrotado de coisas. As barracas surgem com o sol. Fui à uma dessas. Tradicional aqui da cidade.


Tem pastel do japonês, o doce de leite de panela, o tomate do seu Zé... O cheiro, a rua, os feirantes, me fazem lembrar da minha infância, quando eu acordava cedinho para ir passear na feira, e ajudar minha mãe, nas compras de casa. Morava à apenas uma rua.


Certa vez, fui comer pastel lá. Era bem cedinho e estava saindo de uma noitada com um amigo e um ex-caso meu. Acabei experimentando uma fruta. Aspecto estranho. Cor verde. Meio feia. Polpa branca e substanciosa. Gosto azedo-doce e delicado. Muito saborosa.


Estou falando da fruta, sem malícias, caros amigos.


Mas eu disse que tinha ido à feira no último sábado, não é?! Pois é... Fui à barraca do simpático feirante, que havia me dado o prazer de conhecer aquela fruta. Voltei lá pra comprar umas duas... Mas infelizmente ele não tinha mais. Como tinha ido lá especialmente para comprar a deliciosa atemóya, voltei para minha casa, um tanto decepcionado, afinal, queria a atemóya, e não banana, abacaxi, laranja... Essas frutas tinham lá.


Voltando da feira, comprei um jornal. Desses de circulação nacional e grande prestígio. Afinal eu não iria comer mais a atemóya e não queria voltar de mão abanando. Chegando em casa, logicamente, passei um café, meu fiel companheiro das leituras dos meus jornais. Entre uma página virada e um gole, li uma notícia sobre a nossa crise política atual.


A reportagem era sobre o benefício que essa crise pode trazer ao país. Sim, benefício. Era sobre a reforma do sistema político nacional, falido e corrupto.


Tenho que concordar com a reportagem. Pode ser que essa crise traga ao país mudanças no sistema. Algumas propostas já estão sendo formuladas. Redução do tempo de campanha. Algumas novas normativas. E uns outros blá blá blás.


Parece que agora a culpa é da campanha e do tal marketing político. Mas não é. O buraco é bem mais embaixo. As falcatruas usam os orçamentos milionários para desvios de verbas e tudo mais. Isso nem é lá uma grande novidade. Afinal como disse nosso Presidente: “caixa dois é pratica”.


Vou falar um pouco de marketing para que vocês vejam como é que funciona o nosso sistema! Nós, estrategistas de marketing, trabalhamos com dados e números que surgem através de pesquisas. Precisamos saber onde é que tem o que, e se queremos ou não isso ou aquilo. Então traçamos planos e ações para chegar nos nossos objetivos. É muito bonito. Usamos tudo que esta disponível, e logicamente, com ética, seriedade e honestidade.


Mercado também é estabelecido por nós e denominamos de: mercado total, potencial, disponível, qualificado, alvo e penetrado. Para facilitar, faça um circulo dentro do outro e vá colocando os nomes, comece do mercado total, o maior e na seqüência, faça sucessivos círculos circunscritos, até que acabem todos os níveis.


Vocês devem estar pensando, com uma certa cara de ué, onde é que eu quero chegar com isso e o que e o que tem haver marketing com a nossa crise e a reforma do sistema eleitoral.


Simples.


Quando é que o IBEGE faz o senso? Alguns anos antes das eleições? Pronto, determinamos com pesquisa, o nosso mercado. E à partir daí é muito fácil segmentar o mercado. Olhe para os círculos que fez. Será que com o senso, nós não sabemos exatamente se você tem 1 ou 2 carros na garagem? Se tem televisão? Número de pessoas? Escolaridade? E tudo mais?


Semelhança ao mercado total? Potencial? Disponível? Qualificado? Alvo e penetrado? Podemos ir mais fundo e saber das suas necessidades! Incrível! Clap clap clap, palmas para nós, pessoas de marketing.


Agora em um sistema eleitoreiro como o nosso isso é extremamente importante para definir as estratégias à serem usadas. Mas isso tudo tem como ser diferente.


Hoje nós somos obrigados a votar. É impressionante em um país democrático, ou que pelo menos se diz, que o direito seja um imposto. É direito seu, e use-o quando quiser, se quiser.


Algumas pessoas dizem que é nosso meio de dizer o que pensamos. Concordo. Mas tem pessoa que não pensa ou que não quer se manifestar, mas em nosso sistema atual, são obrigadas. E não pensem vocês que não há punição a esse ato de rebeldia. Como na ditadura, há punições. E o Brasil é um país democrático, vejam só.


Como somos obrigados a votar, facultativo só para adolescentes, que têm a responsabilidade de escolher o caminho da Nação, mas não podem ser julgados por seus atos como adultos responsáveis. Os jovens representam uma fatia grande da população. Aumentaram o mercado. Como somos obrigados, fica mais fácil fazer a campanha, já que sabemos exatamente quem é que vota.


E o que era direito do cidadão passa a ser obrigação.


E se votar não fosse obrigatório? Ai as coisas, meu amigo, iriam mudar de figura. Votariam somente as pessoas que querem votar e têm convicção dos seus atos. Porque estão decididas. Porque conhecem as propostas, não só para aquela campanha, mas a proposta do partido. Não votariam somente na figura representa de um ou outro candidato, porque só ele, não governa. É preciso ter a base e tudo mais, votariam na conscientemente nas propostas e ideologias do partido.


As campanhas teriam que mudar radicalmente o discurso, porque agora teriam que convencer pessoas que estão interessadas na política, não adiantaria ficar fazendo palanque, chamar Xoraõnzinho & Cornudão para fazer showzinho em praça pública. Não adiantaria contratar os boca de urnas. Não... Teria que ser muito mais convincente.


Eles não conseguiriam determinar exatamente o mercado votante, como fazem hoje.


E você não teria que optar pelo menos ruim. Menos ladrão. Ou com menos dedo, afinal com menos dedo a impressão que dá é que cabe menos na mão. Grande erro.


Como eu que lá na feira, que não quis levar nem o abacaxi, nem a banana, nem a laranja. Eu queria a atemóya e pronto! Não comprei nada e fui embora.


Hoje, tem gente que, mesmo não querendo, comprou Lula e está agora, engolindo o sapo.


Por Fernando Katayama 25 Agosto 2005

Thursday, August 18, 2005

Corno Manso

Estou aqui mais uma vez. A tevê esta ligada. Mas não presto muita atenção. A rádio toca alguma música que ouço pela Internet. Aliás, o que tem de janela aberta aqui, não é brincadeira. Têm página de jornal brasileiro, de jornal estrangeiro, de piadas, de receitas, notícias. Alguns são links que amigos me enviaram.


Recebo também, e-mails. Alguns são sacanagens, outros, sérios, de trabalho e outras conversas, outras apresentações chulas, intituladas “olha que bunitinhuuuuu”, assim mesmo “bunitinhu”, algumas orações, piadas aos montes.


Chegam vídeos, fotos, músicas... Sem contar os milhares de spans e propagandas, porque tem gente que acha que ficar entupindo as caixas postais com informes, funciona para vender meias Vivarina e facas Ginzo. Áureos tempos do 1406!


Mas deixando de lado tudo isso, tem uma coisa que chega, e é sempre sobre o mesmo assunto. Uns bem humorados tirando sarro da coisa. Outros são bravos, chegam até a serem pouco didáticos e polidos. Uns outros horríveis. Mas todos com o tema em comum: a atual crise política do Brasil.


Não dá para não pensar nisso.


Não sou Petista, e nunca fui. Mas também nunca fui da Arena, PMDB, PSDB, PFL, PDT, PC do B ou da P.Q.P, sempre fui à favor da democracia, do debate, das coisas sérias e honestas, logo, não me vi em partido político nenhum. Mas ver o único partido brasileiro que existia, ou ao menos parecia existir, desmontando ou então, mostrando o que sempre foi, é triste.


O PT se vendeu!


Negou tudo o que pregou durante sua existência, sua militância, seu movimento político, outrora honesto e legítimo. Era convicto em suas propostas e convencia.


Não estou dizendo que era certo ou errado. Que eu apoiava ou acreditava. Não! Só estou dizendo que o PT lá nos anos 80, era convicto e essencial à democracia que estava sendo reconstruída, após anos da última ditadura de direita e com a turma da “Diretas Já”.


Mas como tudo muda...


Os “companheiros” também mudaram. Durante anos almejaram estar lá e Lula, que certa vez, já foi Lula-lá, chegou lá. O tão sonhado posto de Presidente da República, o posto mais alto da nossa República para um homem da política.


Certa vez, li um filósofo, se não me engano francês, que disse, mais ou menos assim: esquerda não pode ter o poder, se não se transforma em direita e acaba com a oposição.


Acredito que foi isso que aconteceu e o que era oposição passou a ser situação, e deslumbrados, como criança em festa com brigadeiro e bolo de chocolate com calda, Lula e seus companheiros se venderam.


Agora o país sofre essa corrupção desvairada e louca. O PT tentou de todas as formas conter a explosão de acusações, mas foi em vão. Durante os quase 25 anos de oposição petista, os que estavam no governo, hoje, oposição, aprenderam como fazer a oposição e destruir.


Nada de piquetes em porta de fábricas e greves. Nada disso. Atacar direto o estorvo e destruir. Destruíram o que os incomodava, o PT.


Alguns vão falar ”mas você não acredita que no governo do FHC, ItF, FCM e JS não tiveram corrupção?”. Lembro do ACM, que escancarou o painel, era alguma coisa sobre compra de votos ou quebra de sigilo. O FCM sofreu o impeachment por enriquecimento ilícito, ou seja, usou o governo para juntar grana. Então, sim teve.


Contudo não posso ficar olhando para os outros governos, seja recente ou lá dos tempos da colônia, para justificar o que acontece hoje. Posso até dizer, plagiando nosso Presidente, que roubar, sonegar, falsiar é corriqueiro e está em nossa cultura e cromossomos, o que não justifica e explica nada.


Mas porque essa crise é tão profunda?


Precisamos ter calma na análise.


Essa crise demonstra toda a fragilidade do sistema nacional político. Expõe o que todos já haviam tido a impressão: tudo é farinha do mesmo saco. Não importa a legenda, todos começam com p, de promiscuo. É Promíscuo do Trabalhador, Promíscuos da Frente Liberal, Promíscuos do Social Democracia Brasileira... E por ai vai... E isso dá desespero. Mas não só isso.


Lula foi eleito pela grande maioria da população, 56%, e isso é muita coisa. Significa que mais da metade dos brasileiros, votaram no barbudinho de língua presa, sem educação formal.


Estavam todos esperançosos com mudanças. Talvez, revolução Comunista, mesmo sem saber o que é isso. Votaram na figura do homem do povo, que fala como o povo, que nasceu no povo... Mas confundiram-se. Ou foram confundidos.


Todos se sentem, de certa forma, enganados e cornudos.


Não sabem bem se devem assumir que votaram na imagem de uma idéia, representada por um sujeito, sem condições de comandar uma nação, totalmente despreparado ou culpar o povo, afinal, foi o povo que o colocou lá. É sempre mais fácil jogar nas costas do povo ignorante.


Os intelectuais e artistas que o apoiavam, agora estão calados e não se pronunciam por nada. Acho que estão se sentindo como cornos mansos, afinal não tem mais o que fazer, a não ser assumir, que foram corneados.


Por falar em ser enganado, o nosso presidente, foi à tevê na última sexta-feira falar à Nação. Provou que não sabe o que fala e não sabe falar. Disse que se sente traído, enganado e que não vai deixar barato.


Eu já havia dito em outro texto meu, que o Presidente sabia ou era corno. Assumiu em rede nacional, que é corno, afinal disse foi traído pelo seu braço direito e seus pares. Mas após seu discurso, acabou virando corno manso, já que não tomou pulso de nada e não deu nome aos bois.


Com tantas CPI’s que estão pipocando por aqui, e acho pipocar um trocadilho muito bom, uma vez que, só se fala em milhões e milhões e mais milhões, e milho quando esquenta estoura, faz barulho, pula da panela e vira pipoca. E trocadilhos que não são frutos da nossa criatividade, já que Jacinto Lamas é um dos caras fundamentais dessa lamaria toda. Talvez, mera coincidência.


Mas como ia dizendo, são tantas as CPI’s, tantas listas, tantos nomes que parece até uma suruba. Suruba, é o que eles fazem nas horas de lazer em Brasília, entre foder um de nós aqui, eles fodem com umas ali.


Geane, a cafetina, providência as garotas ou garotos, porque, certamente, tem cara lá que “escorrega”, e nos pagamos as contas dos de 12 anos e das calcinhas.


Isso deve ser coisa da nossa cultura. Lembra do Itamar com a xoxota da morena estampada na capa do jornal? E da careca reluzente do Severino em outra capa de jornal, brilhava, mas o que foi a manchete, era a calcinha da mocinha que se esfregava nele. Deve ser coisa de macho!


Cornas mesmo são as mulheres dos nossos parlamentares.


E pensar que por um boquete, feito por uma gordinha e um vestido sujo com alguma porra estranha, o homem mais poderoso do mundo quase caiu, imagine se ele tivesse vindo aqui e encontrado com a Geane? Não seria um quase, seria uma guerra nuclear.


Mas eu fico pensando aqui. Tudo isso... Parlamentar que contrata puta, deputado que rouba dinheiro, contas no exterior, lavagem de dinheiro, badidagem, o Brasil sendo pilhado pelos homens que deveriam construí-lo... O Presidente, fraco, inculto e burro com seu discurso retrogrado sobre as elites... E nós?!


Bem...


Nós somos como as iniciantes garotas da Geane, estamos sendo fudidos por velhos gordos, asquerosos, barbados, barrigudos e feios, e aja Viagra para foder tanto assim! E que, na ingenuidade, acabamos com a boca cheia, de alguma coisa gozada e de gosto estranho, então perguntamos meio constrangidos:


- “O que eu faço agora?”, som abafado e língua amarrada.


O cara responde:


- “Você vai ter que engolir!”

[ o Presidente Lula, em um dos seus discursos, disse a frase mais famosa do Tetra Campeão Zagalo, "vocês vão ter que me engolir"]

Por Fernando Katayama 18 ago. 05

Wednesday, August 10, 2005

Meu papo com Jesus

Hoje para variar, fui tomar um café. Era final de tarde e fui a uma padaria dessas que tem aqui na minha cidade. Aqui tem uma padaria em cada esquina. Fui em uma delas. Famosa, bem freqüentada, fica bem em frente à Igreja do Bairro. Nem é meu bairro, passava por lá, mas enfim...


Chegando lá, mal tinha acabado de estacionar meu veículo locomotor de 4 rodas, um pouco antes de adentrar ao estabelecimento do português, me deparei, nada mais nada menos, com Jesus. É inacreditável, não é?


Jesus, ele com seu jeito característico. Sua barba. Sua roupa. Seu jeito de andar. De mexer os braços. De levar a mão, ao centro dos olhos, ali, pouco acima do nariz, bem no final das sobrancelhas. Pois é, Jesus. Ô cara.


Conheço-o há anos. Nossa... Faz tempo. Desde minha juventude. Do tempo das paixões ingênuas e avassaladoras. Das ansiedades. Da carta de motorista. Vivia, a incerteza certa, do tempo do vestibular. Grandes preocupações de um momento decisivo. E foi nessa época que conheci Jesus.


Não pensem vocês que foi na Igreja. Não foi, já que nunca fui à Igreja. Conheci Jesus no cursinho. Jesus dava aulas lá. Era meu professor. Época boa do cursinho. Apesar de levar à sério a escola e o cursinho, logicamente não deixava de curtir a vida. Juventude irresponsavelmente sadia. E Jesus fez parte dela. Acreditem vocês, que fui expulso do prédio onde era o cursinho, junto com Jesus, já que estávamos fazendo a maior zorra, encima de uma mesa.


Mas dessa vez, os anos passaram. Já não vivo mais a dura crueldade da decisão de ser ou não ser. Jesus já não é mais meu professor, e logicamente, nunca mais subimos em nenhuma mesa.


Em nosso encontro de hoje, foi bem diferente dos tempos do cursinho. Conversávamos sobre as coisas da política nacional, das discussões que temos e não temos aqui não país. De como está a juventude...


Nossas feições foram sempre de espanto, medo, incerteza, dúvida e pavor.


Falávamos da crise política que estamos passando. Sem palavras para descrever tanta roubalheira, dos caras-de-pau que são apresentados à nós. A corrupção que corre solta, louca e desvairada, como aqueles torcedores que invadem os campos de futebol pelados. Todo mundo vê, ninguém sabe muito bem o que fazer, damos risadas constrangidas, ninguém sabe quem é, mas todo mundo sabe que o cara ta pelado e correndo com o pintão balançando em rede nacional. Choca naquele momento. O juiz pára o jogo, catam o cara e tudo volta à normalidade.


Conversávamos também, da incerteza que será o ano que vem, que é de eleição. Ninguém sabe para onde é que vamos. Você sabe?


Caixa Dois também foi um dos nossos tópicos. Quem faz, corre o risco de ter que subornar o fiscal, ou então, de pagar a pesada multa. Quem não faz, corre o risco de fechar. Nosso Presidente afirmou que o caixa dois é usual, normal, corriqueiro, prática. Com o perdão da palavra, mas puta merda, o Presidente da Nação assumir um ato desses. Virou casa da Mãe Joana. Abordamos também a dificuldade de se fazer e manter um negócio no Brasil, com ou sem caixa dois. Hoje, com juros, aonde só ônibus espacial vai, torna muito mais atraente colocar o dinheiro no banco do que fazer ele ir ao mercado e circular.


Falando de políticas econômicas e finanças, não comentei com ele da nossa balança comercial. Me esqueci! Vocês podem dizer que ela, hoje esta com superávit. Mas minha gente... O que exportamos são commodities, não produtos da indústria. E só estamos com esse superávit porque estamos colhendo os acordos feitos com o dólar lá na casa dos 4! Quero ver o que vai acontecer quando sentirmos a baixa que o dólar esta sofrendo nesses dias de CPMI e corrupção desvairada.


Voltando a minha conversa com Jesus, perguntei sobre o Referendo ao Desarmamento. Disse que sentia a falta de debate. Nós vamos ser obrigados a votar, sim ou não, e como em todo processo democrático, é preciso debate. Mas não há. Para mim, é essencial o debate de um assunto tão delicado que merece até Referendo. Não é preciso que já se saiba, se sim ou se não, mas é preciso que se esclareça, os prós e contras. Se já leram meus textos, sabem que sou contra a proibição. Posso justificar de muitas maneiras, mas não o farei aqui.


Mas sinto falta do debate. Lembrei aqui de um filme clássico: “Doze homens e uma sentença”. Existe um remake novo, mas o original é com Peter Fonda e Jack Lennon, e vale a pena ver. Um resumo: um homem, negro, da periferia, esta sendo julgado por homicídio. Cabe ao júri dar a sentença. Pré-julgado, ele já está condenado à morte. Mas um jurado, não se contenta em condená-lo, ao menos, sem debater.


Nessa linha de conversa meu papo com Jesus, foi em direção a atual juventude, essa que hoje, esta na dúvida do que fazer. Jesus, que ainda vive a vida do cursinho, afinal vive em um, me disse que a molecada não quer saber de conversar nada, de ler, de saber da órbita que esta. Estão totalmente alienados. Me deu medo. Mas não os culpo. Alguns dos meus contemporâneos são exatamente iguais aos moleques de hoje. Também não sabem de nada e não querem nem saber. Debater então, faltam-lhes palavras, só ficam no “pá-daqui, pá-dali” ou então, pior, ficam só no “tipo assim...”. Não entendem nada de economia, política ou globalização. Vestem a camiseta estampada do Che, mas não sabem quem Che foi. Dizem, como nosso Presidente, “é culpa da elite burguesa”, mas não se lembram que fazem parte dela.


Como Jesus é do Cursinho, falei para ele que tive uma troca de e-mails com um colunista de um jornal, sobre a escola que se diz boa, porque prepara o fulano para a prova do vestibular, mas se esquece, que isso não o prepara para a vida. Tristeza no ar.


Disse ao meu amigo, que se ele quiser ficar milionário, que começasse a fazer aulas preparatórias para os concursos públicos. O novo filão, afinal, manar nas tetas do governo todo mundo quer, inclusive os caras que se vestem de Che. Com a falta de oportunidades no Brasil, conseguir a vaguinha no estacionamento da nação, é uma boa. Não é a toa que a cidade vizinha a minha, arrecadou no seu último concurso, por volta de 2 milhões de reais. 70 mil candidatos para 800 vagas. O dinheiro não dá para saber para onde vai. Para os 70 mil candidatos, não dá para ter certeza que vão ser efetivados. Mas dá pra ter certeza que esse é o tipo de coisa, acaba com o país. Prova que concurso público não serve mais para empregar. Prova que é preciso mudar.


Conversamos de outras coisas, mas não me lembro agora. Não se iludam pensando que isso foi um papo de horas, de uma tarde, de coisa de filosofias vãs. Não. Foi entre eu tomar meu cafezinho e Jesus comprar o pão. Tudo, no caixa dois.

[Como houveram inúmeros desentendimentos, Jesus, foi realmente meu professor no Cursinho. Esse é o nome dele, fazer o que!? E eu realmente me encontrei e tivemos o papo na padaria e fomos expulsos mesmo, pela zorra que estávamos fazendo]


Por Fernando Katayama, 10 Agosto 2005

Thursday, August 04, 2005