O frio na barriga estava comigo. É sempre assim, nesse hiato entre lá e cá.
Cheguei lá. Disseram-me que estava frio. Eu suava.
Deveria ter ido de chinelo e bermuda. O casaco já fora esquecido na mala. Para mim estava quente, mas vi gente de casaco de inverno.
Estranhei o som na rua, e me senti estúpido. Era um sujeito qualquer falando português. Fiquei meio confuso, mas talvez tenham sido os perfumes que cheirei, no mercadinho do aeroporto.
Foi assim que cheguei de volta ao Brasil. Depois de alguns anos, pisei na Terrinha.
Dessa vez não foi suficiente, o tempo foi muito curto para tudo que precisava e queria fazer. Tive que optar, e optei por fazer o que dava, sendo essa a minha única opção.
Mas pensando bem, o tempo nunca será suficiente. É como quando vamos viajar para algum lugar, e sempre tem uma ou outra coisa que não deu para fazer ou ver, ou aquela preguiça de voltar a rotina, e querer ficar sentado à beira da praia com os pés no mar, dizendo estar vendo o por do sol, mas na verdade estamos vendo mesmo são as mocinhas correndo no final de tarde. Sempre digo que essa é a melhor desculpa para voltar: deixar algo por fazer.
Mesmo assim, quando cheguei, parecia que tinha estado lá, ontem. Mas não foi. Fazia tempo que não pisava lá.
Fui paparicado por mamãe. Tive que maneirar na comida, já que tudo que eu gosto, estava lá, na minha frente. Andei pelo jardim, e relembrei da minha infância em casa. Parece que quando estamos longe por tanto tempo, essas lembranças voltam mais fortes.
Vi meus sobrinhos pequeninos e sorridentes. Conversei com minha irmã. Fomos ao shopping, e ela sentiu-se a mãe mais orgulhosa do mundo, a cada elogio aos gêmeos que estavam nos meus braços. E é engraçado carregar neném no colo, a gente faz careta, baba, fala mole, e se esquece que todo mundo tá olhando para você, com cara de bobo.
Dei risada com minha tia-avó, já tão velhinha, mas com seu humor sarcástico e irônico.
Revi pessoas queridas, que entram em nossas vidas meio sem querer. Tomamos café.
Revi alguns poucos amigos do coração. O tempo foi suficiente para um forte abraço e um beijo, mas insuficiente para colocar a conversa em dia. E infelizmente não consegui ver todos.
Separei um tempinho para ir aos bares que gosto. Afinal, neles escrevi muitas das minhas histórias. É muito bom ser relembrado por todos lá.
E no meio disso tudo, também conheci gente nova. Gente bonita e de bom papo.
Mas sempre tem a hora de ir embora. É a hora que se pensa em ficar.
É a hora que dá aquele gostinho de quero mais. E é nessa hora que ponho a saudade de lado e a deixo lá. E entro no avião já esperando o próximo frio na barriga
Por Fernando Flitz Katayama, Toronto, On Canada 30 May 2008
7 comments:
legal... esqueceu de por que não foi me ver...
meu amigo, fica para a proxima vez!!
legal... esqueceu de por que nao foi me ver...
meu amigo, fica para proxima vez!!
ADOROOOOOOOOOOOOOOOOO
Adoooooro tudo isso!!!
"A marca da sabedoria é ler corretamente o presente e marchar de acordo com a ocasião." (Homero)
...Foi muito bom te ver!
Grande beijo!
Li
Olá,
Estava olhando seu blog e achei super interessante, e inclusive, gostaria de fazer uma troca de links contigo.
Tenho um site/blog sobre o Canadá, sob o endereço http://canadabrasileiro.wordpress.com
Mantendo o site, meu objetivo é passar às pessoas percepções sobre o este país o qual atrai milhares de brasileiros e continua ano após ano, a bater recordes de estudantes enviados às suas cidades. Enfim, mostrar como é o cotidiano no país.
Ficarei aguardando respostas.
Thanks… e sucesso para ti ;)
Meu amigo,
Embora curto, nosso papo me fez relembrar uma vida. Cheguei a esquecer que não te via há mais de dois anos.
Foi muito bom apresentar minha filha a vc, com certeza ela ouvirá muito de nossas histórias. Te espero, em breve, para apresentar minha outra filhota que acabara de nascer.
Um abraço e até!
Carlão
Post a Comment