Li outro dia um texto do Sarney. Sarney para mim, em um certo período da minha vida era somente um bigode na televisão. Falava com o sotaque do norte e começava sempre com brasileiros e brasileiras. Sarney presidente-vice-presidente da transição da ditadura-democracia e da galopante hiper-inflação. Ele tem uma coluna num jornal de grande circulação nacional. Escreve as quintas. Foi numa dessas quintas que li, não me recordo qual. Não tenho o costume de ler a coluna dele ou qualquer outro político. É por pura birra, descontentamento e desilusão. Não gosto muito de dar IBOPE para eles, mas às vezes, me rendo, caio à tentação e cometo o crime. Já fiz isso com FHC, Delfin, Mailson, Bresser...
Sarney não começou seu texto invocando homens e mulheres do Brasil, nem me lembro como ele começou para ser sincero, mas o conteúdo era um tanto interessante, e não falava de marimbondos. Disse lá que o grande vilão do desgraçado e ridículo desenvolvimento nacional, até mesmo comparado-se ao próprio umbigo, é da Constituição de 88. Disse lá, que de pescoços torcidos, os políticos escreveram a constituição olhando para o passado. Citou nomes americanos para demonstrar a solidez da constituição americana feita por 55 pessoas e comparou com a celebre nota de Ulisses Guimarães, que dizia que a nossa foi feita por 10 mil. A gringa tem 200 anos e é solida, já a nossa tem 20 e tá toda remendada. E ainda reforçou a seu ponto com dados e números de fontes fidedignas. E eu concordo com ele. Eles não só olhavam para o passado, olhavam só para o passado deles, dane-se a Nação.
Seo Zé Sarney só esqueceu de incluir-se a corja. Tentou esgueirar-se da culpa. Não cola. Sarney, vice de Neves, esta no cenário político brasileiro há muito. Fez parte do Arena em plena ditadura. Não é atoa, que na eleição indireta de 85 estava lá como vice. Culpou os senadores e deputados constituintes pelo corporativismo instalado no país hoje, um dos responsáveis por esse crescimento gabirú, mas não chamou para si a responsabilidade como Presidente. Coisa que esta em voga hoje, ou talvez nunca tenha saído de moda na passarela política nacional. Não ter responsabilidade, não assumi-la ou não saber é característica.
Não vou ficar aqui falando mal do Sarney, nem do Neves, que foi morrer antes de sua posse, apesar que cotado como o “salvador”, estava na política há mais tempo que seu vice na época, e era íntimo do Arena, pai do PMDB e irmão da UDN. Muito menos vou falar do Collor e do topete do Itamar. Nem pensar em falar do FHC, SBP•1 ou BHC•1. Nem do Lula. Figueiredo, Médice, JK, GV ou o grande Cabral, não o ministro, mas o Álvares. Estaria fazendo o que eles todos fizeram: olhando pra trás.
Os pescoços torcidos ainda estão impregnados no Palácio do Planalto. Talvez por estarem sempre olhando pra trás e apoiados em verdades ultrapassadas e nem tão verdades assim ou até em grandes engodos, os passos do desenvolvimento andem tão lentos e amedrontados, com muitos tropeços e pouca visão de futuro.
Notq *1: SBP e BHC são inseticidas, e não tem nada haver com política, a não ser se voce usar para eliminar esse tipo de inseto.
Música: Attitude - Guns and Roses - Spaghetti Incident - 1993
Por Fernando Flitz Katayama, Toronto, On Canada March 24 2007
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