Enquanto escrevo esse texto, jogam Itália e Ucrânia. Pouco antes jogaram Argentina e Alemanha, e vimos os argentinos chorarem em campo, com a derrota nos pênaltis para a o goleiro Lehmann. O goleirão pegou dois pênaltis, e despachou para casa os Los Hermanos.
Nós estamos aguardando o jogo do Brasil e França. Lógico que a imprensa especula a revanche da final de ’98. Sensacionalismo e bafafá fazem parte do show biz. Deverá ser um jogo difícil, já que o Brasil é um time sem a mínima vontade de jogar e a França ta mal das pernas. Espero que não seja afinal, gosto de um futebol bem jogado, mas acho que vai ser duro de ver.
O Selecionado vem demonstrando, com os seus quatro jogos, que estamos cansados de jogar bola. Não tem vontade. Contra Gana, faltou vontade. O time marcou um e se deu por satisfeito, fez mais dois, mas foi porque Gana não foi um time forte. Talvez os milhares de dólares já ganhos tirem o apetite de gol, porque não tem mais lucro nenhum. Queria um futebol mais alegre do Brasil.
Contra a França vamos ver. Deve ser um jogo burocrático. Contra a mesmice, a imprensa notificou anteontem uma entrevista do ídolo francês Henry. Henry disse que o Brasil tem muitos craques e qualidade futebolística excepcional porque o povo é analfabeto. Certamente o foco da notícia não era nem um pouco social, e sim, provocação. Henry esta certo.
O futebol é a esperança do podre. O Brasil é um país analfabeto, sem escola, sem educação. Como disse Henry, brasileiro já nasce com a bola no pé.
No final do ano, quando começam os vestibulares para as universidades, ninguém fala das inúmeras peneiras que acontecem nos clubes pelo Brasil a fora. Ninguém faz a proporção.
Medicina na USP ou na Unicamp. Publicidade. Direito. São os cursos com as proporções mais altas de candidato/vaga. E para chegar ai, para disputar as vagas, são necessários no mínimo 11 anos de estudo. E que seja em escola boa e um bom cursinho. Mas isso é para uma pequena parcela da população. Geralmente são estudantes de escolas particulares, já que as escolas estatais não têm como preparar ninguém, mas lógico existem as exceções, puramente esforços individuais.
E as peneiras? Qual é a relação candidato/vaga? A realidade é dura, mas a proporção é alta. Deslumbrados com a vida nababesca dos poucos craques, que realmente conseguem fazer milhões, pais miseráveis incentivam os filhos a irem jogar bola ao ir a escola. Levam desde pequenos os garotos às peneiras dos times. Vêem-se garotos de 5, 6 anos já em testes.
O problema não é fazer craques desde pequenos, porque craques se lapidam desde pequenos. O problema é que querer ser craque não é uma opção. É a falta dela.
Henry esta certo.
[música do texto: It’s About Time – James Cullum –Twentysomething - 2004]
[Henry é atacante no selecionado francês/2006. Peneira é o nome que se da para o vestibular da bola]
Por Fernando Katayama New York, NY, June 30 2006