Friday, June 30, 2006

O Craque Francês Henry

Enquanto escrevo esse texto, jogam Itália e Ucrânia. Pouco antes jogaram Argentina e Alemanha, e vimos os argentinos chorarem em campo, com a derrota nos pênaltis para a o goleiro Lehmann. O goleirão pegou dois pênaltis, e despachou para casa os Los Hermanos.
Nós estamos aguardando o jogo do Brasil e França. Lógico que a imprensa especula a revanche da final de ’98. Sensacionalismo e bafafá fazem parte do show biz. Deverá ser um jogo difícil, já que o Brasil é um time sem a mínima vontade de jogar e a França ta mal das pernas. Espero que não seja afinal, gosto de um futebol bem jogado, mas acho que vai ser duro de ver.
O Selecionado vem demonstrando, com os seus quatro jogos, que estamos cansados de jogar bola. Não tem vontade. Contra Gana, faltou vontade. O time marcou um e se deu por satisfeito, fez mais dois, mas foi porque Gana não foi um time forte. Talvez os milhares de dólares já ganhos tirem o apetite de gol, porque não tem mais lucro nenhum. Queria um futebol mais alegre do Brasil.
Contra a França vamos ver. Deve ser um jogo burocrático. Contra a mesmice, a imprensa notificou anteontem uma entrevista do ídolo francês Henry. Henry disse que o Brasil tem muitos craques e qualidade futebolística excepcional porque o povo é analfabeto. Certamente o foco da notícia não era nem um pouco social, e sim, provocação. Henry esta certo.
O futebol é a esperança do podre. O Brasil é um país analfabeto, sem escola, sem educação. Como disse Henry, brasileiro já nasce com a bola no pé.
No final do ano, quando começam os vestibulares para as universidades, ninguém fala das inúmeras peneiras que acontecem nos clubes pelo Brasil a fora. Ninguém faz a proporção.
Medicina na USP ou na Unicamp. Publicidade. Direito. São os cursos com as proporções mais altas de candidato/vaga. E para chegar ai, para disputar as vagas, são necessários no mínimo 11 anos de estudo. E que seja em escola boa e um bom cursinho. Mas isso é para uma pequena parcela da população. Geralmente são estudantes de escolas particulares, já que as escolas estatais não têm como preparar ninguém, mas lógico existem as exceções, puramente esforços individuais.
E as peneiras? Qual é a relação candidato/vaga? A realidade é dura, mas a proporção é alta. Deslumbrados com a vida nababesca dos poucos craques, que realmente conseguem fazer milhões, pais miseráveis incentivam os filhos a irem jogar bola ao ir a escola. Levam desde pequenos os garotos às peneiras dos times. Vêem-se garotos de 5, 6 anos já em testes.
O problema não é fazer craques desde pequenos, porque craques se lapidam desde pequenos. O problema é que querer ser craque não é uma opção. É a falta dela.
Henry esta certo.

[música do texto: It’s About Time – James Cullum –Twentysomething - 2004]
[Henry é atacante no selecionado francês/2006. Peneira é o nome que se da para o vestibular da bola]

Por Fernando Katayama New York, NY, June 30 2006

Wednesday, June 14, 2006

Olha o Passo do Elefantinho

Tem uma multidão festiva. Uns pintados. Outros de camisa. Outros sem. Com peruca ou carecas. Cara pintada ou cara torcida. Ta todo mundo la.
Uma porção de camisa amarela. Outra porção de camisa “bandeira de chegada da fórmula 1”.
Unhas são comidas nos quatro cantos do planeta. Uns no estádio. Outros pela tv e alguns, é alguns, ainda pelo radio.
Nem começou o jogo ainda. Já tem nego com dor de barriga e nervoso. Tem uma galera já fazendo churrasco, em plena terça-feira e é meio do dia. Dia de jogo é feriado.
É impossível não falar de futebol, mesmo estando longe da febre amarela e verde que toma o país. Aqui, em New York, vejo o jogo pela tv. Nada de Rede Globo, vejo por uma rede mexicana. Aqui, nem todo mundo sabe o que é futebol, alguns confundem com o jogo deles, o futebol jogado com as mãos, e vai lá saber por que é que é Foot, mas os que sabem, ahhh sabem de Ronaldinho e Brraazill. Depois do jogo, alguns gritavam em minha direção, ou melhor, a cor amarela e verde, “Go Brazilll!!!”, sem ter a mínima idéia do sufoco que foi o primeiro jogo da Copa.
Todas as explicações são cabíveis e até entendemos, mas não nos conformamos. Como espectadores, ou melhor, como torcedores, queríamos mesmo é o show. Show de bola do Ronaldinho e sua trupe. Queríamos não só o Drible-Elástico, mas o placar também elástico.
Vimos mesmo é a Croácia bem armada, segura de si e muitas vezes, mais perigosa que o Brasil.
A vitória suada com o golaço do moleque Kaka foi o que restou de espetacular no jogo, que em suma, foi nada de mais. Alguns vão dizer que Ronaldinho não jogou bem, ele tava muito marcado.
Mas o time, como um time, parecia meio nas nuvens. Roberto Carlos, com toda sua experiência, quase entregou o ouro, em uma cagada de elefente.
Mas o pior de tudo foi o elefante amarelo plantado em campo. Ronaldo pensa que o nome joga. Que nome ganha jogo. Precisa tomar um tapa na careca, e ouvir o Pânico gritar “pedala gorducho!”. Morto desde a hora que entrou em campo, fez de tudo para sumir. E sumiu. Enquanto o time todo suava, ele tava sequinho. Não fez nada, ou melhor, fez, atrapalhou.
A entrada do Moleque Travesso, Robinho, mudou a característica do jogo. Deu velocidade ao paquiderme selecionado brazuca, deu mais movimentação, o que faltou para o Escrete Canarinho vencer a bem armada Croácia, que até o gol tava vencendo de zero a zero, afinal empate era vitória.
O Brasil já pagou caro na França porque Ronaldo “tinha que jogar a final”, mesmo que com as calças borradas. Na mesma copa, Romário foi cortado, ainda no Brasil, por não estar em condições físicas.
Ronaldo, gordo, mole, lento, pesado, com duas Brastemps 550l nas costas, não pode continuar no time, não tem condições físicas e já alega “febre”. Deve ser de medo.
Mesmo que a FBF mande, Ricardo Teixeira mande, Galvão Bueno mande, ate mesmo que a Nike mande, Ronaldo tem que ficar de fora. Antes que nos mandem de volta para casa mais cedo.

[música do texto: É uma Partida de Futebol – Skank – Samba Pacone 1996]
[primeiro jogo do Brasil na Copa/2006: Brasil 01 X 00 Croacia]
Por Fernando Katayama New York, NY June 13 2006

Sunday, June 04, 2006

A Taça Do Mundo É Nossa

Estamos a uma semana do início da Copa do Mundo, e dizem que a Taça do Mundo é nossa, afinal com brasileiro não há quem possa, já cantava o sambinha de outras Eras. Eras de craques como Belline, Garrincha, Pelé. Hoje é Ronaldinho, sem dúvida alguma um craque moleque.
Mas sou obrigado a usar o mais velho jargão do futebol e dizer: “futebol é uma caixinha de surpresa”. Lembro bem da Copa de 82, nossa vibrava em casa a cada gol. Aquele espetacular de Éder, que Falcão somente abriu as pernas e a bola passou e ele chutou de fora da área. Não me lembro contra quem, mas foi um golaço. Mas o melhor time da Copa perdeu contra a Itália. No Jornal Nacional, Fernando Vanucci, chorava ao dar a noticia. Lembro também de 86, quando o meu glorioso Guarani, hoje na Segundona devido sua péssima administração, perdeu para o São Paulo com o gol miraculoso de Careca, já na prorrogação. O Bugrão, era disparado o melhor time, tinha mais pontos, jamais seria alcançado pelos outros, mas perdeu a final.
É futebol é uma caixinha de surpresa. Não basta fazer o que o “professor mandou”, “treinar duro, durante a semana, corrigindo os erros do jogo anterior”, para “trazer uma alegria para esse povo tão sofrido”. Tem mais coisa que isso.
Em uma semana, haverá mais bandeiras nacionais nas ruas que em qualquer outra situação. De quatro em quarto anos, o brasileiro fica patriótico. Pinta a cara, o corpo, se veste, usa a bandeira com as cores verde e amarelo. Dura exatamente 4 semanas.
Para Lula, vai ser muito mais importante se o Brasil ganhar do que o héxacampeonato. Sim para ele é muito mais do que para nós amantes da bola.
Para ele é a chance de reforçar a vantagem sobre os outros. Se o Escrete Canarinho vencer a Copa, obviamente Lula convidará o selecionado para ir ao Planalto. Condecorá-lo com medalha, fotos e poses. Não foi diferente com nenhum outro presidente e outras Copas.
O uso da imagem vencedora da Seleção a poucos meses das Eleições é uma peça fundamental para a campanha de marketing.
A vibração positiva e a euforia do campeonato vencido encobrirão as mazelas do povo, e ainda bem, que um jogo de futebol faz isso, até faz machões palmeirenses e corinthianos se beijarem com a vitória.
Mas também as manchetes dos jornais enfocarão o futebol e não a podridão que corre solta. Esquecerão do Mensalão, do Mensalinho, da Dança da Gordinha, da lavagem de dinheiro, do envio de dólares, do PCC...
A partir dessa semana, de sexta-feira, o Brasil ficará em suspensão. Dia de jogo é feriado com churrasco, cerveja e pagode.
De qualquer forma, como qualquer outro que gosta de futebol bem jogado e alegre, eu grito da arquibancada: “VAI RONALDINHO, VAI, FAZ O QUE PROFESSOR FALOU E TRAZ UMA ALEGRIA PARA ESSE POVO TÃO SOFRIDO!”
[música do texto: É Uma Partida de Futebol – Skank – O Samba Paconé, 1996]
[A Copa do Mundo de 2006 será na Alemanha. Começa no dia 9 de Junho, uma sexta. O Brasil é cotado como time imbatível, com a chave da primeira fase moleza.]
Por Fernando Katayama, New York, NY 4 June 2006