Tuesday, May 02, 2006

Corteo

Andavam todos cabisbaixos. Em fila dupla, um atrás do outro. Passos curtos marcados pelo som surdo do tambor. Alias o único som que se podia ouvir. A cada toque, um passo. Lentos caminhavam.

Parecia sombrio.

De repente uma luz brilhante apareceu. Intensa de doer os olhos, focava em um sujeito nem alto nem magro, ligeiramente acima do peso, barrigudo. Vestido cartola e um fraque vermelho. Começou a falar alto, “Senhoras e senhores...”.

E em um estalo, músicos começaram a tocar. A fila se desfez.

Era uma alegria geral tomando conta de todos por lá. Balões coloridos voavam. Dançavam todos. Alegres faziam palhaçadas. Água em um, balde de confete em outro.

A pequena mulher voava amarrada em gigantes balões. Via tudo por cima. O gigante homem brincava com um tão pequeno que cabia em uma garrafa.

Meninas-anjo voavam de um braço a outro em homens-trapezistas.

Malabaristas impressionavam com a habilidade no manuseio dos seus malabaris. A mulher-aranha agarrada na corda bamba, delicadamente despejava purpurina nos que estavam embaixo dela. Piruetas mortais faziam alguns amarados em pedaços de sedas.

Mais uma vez, aparece o homem de fraque vermelho. Assustado pergunta “não deveria ser um cortejo?”.

Alegres, todos respondem em coro: “sim! Mas esse é o palhaço”, e continuam a festa.

Quando eu morrer, se for para morrer, quero morrer como o palhaço. Dando risada da vida e com muita festa.

[música do texto: Alegría, Cirque du Soleil]
[Corteo é o nome do espetáculo apresentado pelo Cirque du Soleil em 2006]
Por Fernando Katayama, New York, NY, 3 May 2006

No comments: