Thursday, May 25, 2006

Pintura Feia

New York – Acompanho tudo de longe pela Internet. Leio alguns jornais eletrônicos e outras vezes em algum outro meio. Não só as manchetes me preocupam, mas as pequenas notas de roda pé.
Enquanto o país é tomado pelos bandidos e pior de todos os gêneros, o Brasil fica a deriva. O Brasil vive ainda o ar de Beirute, mas nunca deixou de estar em uma guerra civil não declarada. E que digam isso os moradores do Rio, onde o Cristo Redentor esta de braços para cima para mostrar que esta desarmando, ou é uma blitz da polícia, mas ele não tem certeza, que são realmente policiais. De qualquer forma, assiste a tudo com colete à prova de balas.
Mas o grande caos mesmo são os parlamentares, o judiciário que causam o mal maior. Políticos que se vendem e políticos que compram em um mercado negro de milhões de dólares. E o Judiciário é uma maquina velha e emperrada.
Lula, notícia fresca, cresceu nas pesquisas eleitorais, e não sei se sinto medo ou total descrença no povo. Como pode ele ter aprovação popular com toda essa lambança que esta acontecendo?
Mas isso tudo ai esta nas manchetes dos jornais.
Mas será que alguém leu que o Masp teve a luz cortada por falta de pagamento? Que a Eletropaulo quer obras como garantia? O museu que fica na em uma das mais belas obras arquitetônicas de São Paulo começa a agonizar.
Vão começar agora a jogatina de responsabilidades do governo municipal para o estadual e do estadual para o federal, que logicamente cairá sobre a sociedade. E de certo ponto de vista, é verdade. A responsabilidade é da sociedade, de não cuidar do seu patrimônio intelectual e cultural e pior ainda de ter votado e colocado onde estão os governos que a acusa de negligência.
Cultura e educação são muito importantes para começar a mudar o cenário do Cristo. Mas o governo federal prefere gastar 5 bilhões em bolsa-assistência do que pagar a conta o museu.
Mas enquanto tudo isso acontece, o Brasil todo esta mesmo preocupado é com a escalação do Escrete Canarinho. E que venha a Copa, pelo menos alivia a dor do moribundo.


[música do texto: Peng! 33 – Stereolab – Peng! 33 ]

Por Fernando Katayama New York, NY, 25 May 06

Thursday, May 18, 2006

Show da Malandragem

Meu vizinho peida alto. Parece um tiro de metralhadora ou uma granada de mão explodindo. Em dois minutos os bombeiros já chegaram e junto com eles, uma frota de carros da polícia, inclusive uma “task force” da SWAT. Os caras aqui são neuróticos e estão paranóicos com essas coisas de ataques terroristas que qualquer peido é bomba. Mas é evidente que os organismos públicos funcionam, afinal o caminhão dos bombeiros chegou em dois minutos.
Não sei quanto tempo leva no Brasil. Nunca tive um vizinho que peidasse tão alto. Contudo eu sei que tem uma organização que funciona muito bem.
É o PCC.
Os ataques que o PCC executou em São Paulo durante essa última semana, mostrou a organização, já não mais na fase embrionária, mas em estágio avançado. Ataques terroristas simultâneos, primeiramente as forças de segurança e depois aos transportes e por fim, a sociedade civil.
O PCC mostrou-se forte. Uma facção com interesses ilícitos, que hoje, mostrou poder controlar o país. Os ataques só deram um tempo, porque o governo fez um acordo. É um grupo terrorista como ETA, IRA ou Al Quaeda, a grande diferença é que seus líderes estão presos. Irônico. Na prisão estão protegidos de serem mortos por adversários do crime. E nós pagamos a conta.
Porém, os ataques surgiram de forma aparentemente inusitada, sem motivo algum. Imaginemos que sim, foi assim. Então mostrou o governo, tanto estadual como federal, totalmente despreparado, sem o Serviço de Inteligência que funcione, sem polícia que funcione. Mostrou que os bandidos são muito mais eficientes e organizados que a máquina estatal.
Outra coisa que é evidente é o poder da mídia em disseminar a paranóia e aumentar o caos. Lógico que o poder da mídia mal feita previamente calculado pelo cérebro malandro.
Contudo não deixo de pensar que nada disso foi assim, ao acaso. Bandido não gosta muito de alvoroço, porque prejudica os negócios. Bandido não gosta de polícia no pé. Prejudica os negócios. Bandido gosta da sombra e da escuridão, nada de holofotes e exposição. Prejudica os negócios. Porque então cargas d’água fizeram esses ataques?
Pra mim, tem jogada política. As eleições se aproximam e com o medo da população, o tal clichê de campanha “mais segurança”, torna-se mais poderoso agora. Quem mostrar que controla a violência urbana, terá mais pontos. Na última eleição, a população engoliu o grande engodo do Fome Zero, e agora cospe no prato que comeu, e ainda passa fome.
Por um outro lado, volto a repetir, porque já disse em um texto antigo, que país com o caos instaurado é prato feito para golpe militar. [ver Homens-folha, 16 de maio de 2006]
Agora vai começar a ladainha de “mais segurança para a população” e blá, blá, blá. Vesgos, não conseguem ver direito sem óculos. É preciso colocar óculos na sociedade, para parar de exigir “mais segurança” e começar a exigir mais educação, mais seriedade e menos corrupção. Corrupção não só do governo, mas das pequeninas corrupções que acontecem no dia-a-dia de cada um.
Se não, não sobra muito o quê fazer. Para aqueles que acreditam que rezem, e rezem mais ainda para não acabar a vida ouvindo Ezekiel 25.17.


[música do texto: 01 - Pumpkin and Honey Bunny, Misirlou – Dick Tale e His Del-Tones; 02 - Ezekiel 25.17 – Samuel L. Jackson / Pulp Fiction, 1994]

[PCC – Primeiro Comando da Capital, facção Criminosa, executou ataques terroristas no Estado de São Paulo durante a semana de 7 a 17 maio de 2006, e que ate agora, resultou em mais de 100 mortes, entre policiais, criminosos e civis]

[Ezequiel 25.17, é um trecho do filme de Quintin Tarantino, Pulp Fiction, 1994, que Vincet Veja (John Travolta) e seu comparsa Jules Winnfield (Samuel L. Jackson) matam outro criminoso, mas antes disso, Jules recita Ezequiel 25.17]

Por Fernando Katayama, New York, NY, May 18 2006

Tuesday, May 09, 2006

Manha de Garoto

Índia - Ghandi fez greve de fone, lutou contra a colônia britânica. Fez um legado. Hoje é um mártir.
Tibet - Dalai Lama passa dias sem comer para purificar o espírito.
Brasil – Faz jogada publicitária. Já tinha feito antes ao se juntar com a Igreja Universal. Fez Nepotismo e colocou até a mulher no seu lugar.
Garotinho faz birra. Não quer passar a limpo as acusações a ele feita, no devido lugar, na Justiça. Por pior que seja, ela ainda existe no Brasil.
Não, ele que chamar a atenção da mídia em uma jogada para a campanha eleitoral que pretende fazer. Faz greve de fome. Uma idiotice.
Talvez queira se fazer de coitado. Talvez, queria mesmo é emagrecer e viu uma grande oportunidade de aparecer.
Enquanto o Brasil passa por uma crise nunca vista antes, fica fazendo manha e bico, gritando “eu também quero” e “ele tem, mas eu não tenho, eu quero!”. Coisa de criança.
Quer mesmo é entrar para a Máfia do Planalto, mamar nas tetas do povo e viver a boa vida de fazer nada e ganhar muito, dizendo que esta fazendo política.
Imagine só o Garotinho presidente e fazendo greve de fome para resolver uma questão política, coisa mais ridícula.
Enquanto o Governo e o PT se sujam mais ainda tentando se limpar da merda que fizeram e Garotinho faz birra digna de um garotinho mimado, os brasileiros assistem a tudo isso, boquiabertos sem saber muito bem o que fazer, mais uma vez. Uns dizem para resolver nas urnas, só se for queimando-as.
Pior, de tão mal conduzido, o Brasil esta ficando na mão de paises vizinhos como a Bolívia e o índio louco Evo Morales, mesmo com as grandes reversas naturais que temos.
E para ajudar a greve de fome do Garotinho, ainda pode faltar gás.

[música do texto: Old Devil Moon, Jamie Cullun – Twentysomething, 2004]

Por Fernando Katayama New York, NY, 09 may 2006

Tuesday, May 02, 2006

Corteo

Andavam todos cabisbaixos. Em fila dupla, um atrás do outro. Passos curtos marcados pelo som surdo do tambor. Alias o único som que se podia ouvir. A cada toque, um passo. Lentos caminhavam.

Parecia sombrio.

De repente uma luz brilhante apareceu. Intensa de doer os olhos, focava em um sujeito nem alto nem magro, ligeiramente acima do peso, barrigudo. Vestido cartola e um fraque vermelho. Começou a falar alto, “Senhoras e senhores...”.

E em um estalo, músicos começaram a tocar. A fila se desfez.

Era uma alegria geral tomando conta de todos por lá. Balões coloridos voavam. Dançavam todos. Alegres faziam palhaçadas. Água em um, balde de confete em outro.

A pequena mulher voava amarrada em gigantes balões. Via tudo por cima. O gigante homem brincava com um tão pequeno que cabia em uma garrafa.

Meninas-anjo voavam de um braço a outro em homens-trapezistas.

Malabaristas impressionavam com a habilidade no manuseio dos seus malabaris. A mulher-aranha agarrada na corda bamba, delicadamente despejava purpurina nos que estavam embaixo dela. Piruetas mortais faziam alguns amarados em pedaços de sedas.

Mais uma vez, aparece o homem de fraque vermelho. Assustado pergunta “não deveria ser um cortejo?”.

Alegres, todos respondem em coro: “sim! Mas esse é o palhaço”, e continuam a festa.

Quando eu morrer, se for para morrer, quero morrer como o palhaço. Dando risada da vida e com muita festa.

[música do texto: Alegría, Cirque du Soleil]
[Corteo é o nome do espetáculo apresentado pelo Cirque du Soleil em 2006]
Por Fernando Katayama, New York, NY, 3 May 2006