Eu nunca gostei. Acho que sou chato. Existe e não há o que fazer.
Me resta:
Agüentar a Globeleza pulando na tv com as tetas de fora, sacudindo para um lado e para outro, como se fosse a coisa mais linda do mundo.
Agüentar o batuque infernal de quem não sabe tocar. E ainda o cara dizer: “olha a paradinha”. Sem contar o samba-enredo, e o grande puxador Jamelão.
Agüentar a molecada dizendo que “é bom para pegar mulher”, afinal o cara é um incompetente e só pega mulher uma vez no ano, no Carnaval. No resto do ano, cinco resolvem por um.
Agüentar alemão vermelho na praia, falando “zamba”, “carnival”, “molër pilada” e “caipiriina”.
Agüentar que todo mundo é de todo mundo e ninguém é de ninguém e é hora de tirar o atraso.
Agüentar os locos de pó, lança e lo-lo. Hoje de êxtase e doce. Bêbado vomitando no pé e para piorar, mulher bêbada, que fala cuspindo com os peitos esfregando na nossa cara, com cara de quem quer dar, mas é só tipo e fedendo bebida de segunda. Se homem bêbado é uma merda, mulher bêbada é merda potencializada.
Agüentar todo mundo dizendo: “vamos pulá, alegria, é Carnaval”, te obrigando a pular como idiota, fingir felicidade e dizer que comeu todas, afinal é Carnaval. E na verdade, você estava afim mesmo de ouvir música clássica e ler um livro.
Isso sem contar que as mulheres reclamam que são tratadas como um “léio*” de carne, mas no carnaval, não passam de um belo par de tetas e bundas.
E se quiser fugir para a praia, melhor ficar em casa.
Uns dizem que vale o feriado, mas cacete, então para que a putaria toda?
E se é pela putaria, bebedeira e pegação, qual é a diferença do final de semana passado?
[* leio: pedaço / O Brasil só funciona depois do carnaval]
I will be pulled away by its blow Far away by its stream to another land
I will be pulled away by its breath Far away by its stream, wherever it wants
Wherever it wants, far away from this world Between the sea and the stars" ]
Por Fernando Katayama 22 fev. 06