Saturday, October 08, 2005

Rock Escola

Em um dia desses, zappeando minha tv, defrontei-me com um vídeo clipe dos anos 80, aliás parece haver um certo movimento retrô para essa época. Talvez seja até normal, que 20 anos mais tarde, aconteça a busca do que se perdeu naquele tempo. Foi assim nos anos 80, buscando os 60.

O vídeo que vi, parecia ser de baixa qualidade, para os padrões de hoje, mas na época, era de ponta. Imagens coladas, sobreposições quase amadoras e marcado claramente pelas roupas e o corte de cabelo. Mas letra e música, de primeira linha.

Para minha geração, hoje com seus trinta e poucos anos, crescemos no meio da explosão do rock nacional. Os Paralamas do Sucesso, Titãs, Barão Vermelho, Legião Urbana, Blitz, Rita Lee. Já ouvíamos Elis, Jobim, Vinicius, João, Gal, Caetano, Gil, Milton e Chico. A lista não pára por ai, mas ficaria imensa e também não estou aqui para listar os grandes nomes da música brasileira, e isso porque, nem cheguei a citar nomes mais antigos como Pixinguinha, Dorival Caime, Ari Barroso e alguns outros instrumentistas.

Acontece que eu notei que os grandes nomes da música brasileira continuam os mesmos. A moçada hoje canta Gil, Caetano, Barão, Milton, Elis, Tom, João, Paralamas, Legião e por ai vai! E olha só, até o Rei Robertão, e o tremendão Erasmo. E tem algum problema nisso? Nenhum.

Acho bom, já que a música é da mais alta qualidade. Porém, me pergunto: porque é que não aparecem nomes de qualidade na música brasileira? Posso ir além e me estender para as artes, arquitetura, poesia e literatura. O cinema sai fora, afinal estamos crescendo, um certo Walter, mostrou que para ter recurso é preciso fazer filme com qualidade, que por conseqüência atrai investimentos. Mas fora o cinema, não há um movimento grande no cenário cultural nacional.

Já ouvi que isso aconteceu porque a Ditadura Militar sufocou o povo e então, os cabeças, usavam a música para mostrar a indignação atrvés das mensagens disfarçadas e encobertas pelas letras e poesias, então, surgiram nomes como Elis Regina, Tom Jobim e Chico Buarque, isso durante os anos 60 e 70. Já nos anos 80, as bandas de garagem, vieram com o movimento das Diretas Já, e com a abertura puderam cantar o que estava preso.

Para mim, isso é uma análise muito simplista e podre para falta novos nomes. Não é possível justificar a carência cultural pela falta de um regime totalitário, se não, Cuba teria os maiores representantes das artes e ciências uma vez que, a Ditadura de Fidel, perdura a mais de 40 anos. A China teria sido o templo, um milhão de habitantes e a Ditadura de Mao Tse Tung, sem contar o Chile de Pinochet, Portugal de Salazar, a Espanha de Franco, Itália de Mussoline e por fim, toda a Europa tomada por Hitler. Deveríamos então aplaudir em pé os ditadores, pela sua enorme colaboração com a cultura.

Mas o que seria de nações que não tem em sua história períodos totalitários? Rolling Stones e Beatles não estariam até hoje nas rádios. Elvis não teria rebolado. Janis Joplin e Jimmy Hendrix não teriam fumado, cheirado e tomado os tubos em Woodstock.

Então não cola justificar assim.

Concordo que o mundo hoje é outro. Que a velocidade do mundo é outra. Que o comércio também imprime uma força destrutiva atrás do lucro sem piedade. Mas mesmo assim, não justifica.

Cantorezinhos e grupinhos feitos para o verão, acabam no verão. Bunda de fora, peito de silicone, música de dois tons e um semi-tom e letra estúpida com um pouco de sacanagem e só. Sabemos que são produtos de pouquíssima durabilidade. Então não me preocupo.

Preocupa-me, não ver coisas sólidas surgindo.

Não é por falta do que lutar e nem de lutar contra alguma coisa, como se costuma justificar. Afinal, a vida é uma luta, sempre. Lutar para conseguir um trabalho e lutar para se manter lá. Lutar para ser honesto no meio de tanta corrupção. Lutar para construir um mundo melhor. A vida moderna é cheia de lutas diárias. Talvez, a luta contra nossos maiores medos, contra nossos anseios, contra nossas insatisfações e frustrações. Não me diga que não há luta e, portanto, não justifica a falta de cultura pela falta de “inimigo”.

Então, o que é que acontece?

Acredito que o grande buraco de nossa história esta na falta de educação. Educação no seu contexto geral.

A escola cada vez pior. O declínio já era sentido por mim, no início dos anos 90, e de lá para cá a coisa só piorou. E piorou rápido. Isso sem contar com os pais que jogam a responsabilidade da educação para a escola, que por sua vez, é horrível.

Como teremos cultura em um país inculto?

A escola preocupada em passar no vestibular como um adolescente de 17 anos, não forma seus alunos, apenas informa-os. Não há como dissertar com as novas gerações, e cabe ai, alguns dos meus.

Provavelmente é por isso, que não há valores novos no cenário cultural. Todos que estão ai, até os mais novos, já estão ficando velhos, de idade, é preciso frisar, porque, coisas de qualidade, são atemporais. O que mostra o não surgimento de novos valores. Não estou falando daquele pessoalzinho produzido para o verão. Estou falando de gente de qualidade alta. Hoje, não há como criar crítica. Como disse Jesus, meu ex-professor: “esses jovens de hoje, parecem todos cabeças de vento”.

E mais uma vez, Elis cantará certamente: “e nossos heróis são os mesmos dos nossos país”.
Fernando Katayama 08 out. 2005

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