Monday, October 24, 2005

Referido Medo

Sempre tenho um dilema, toda semana fico pensando o que escrever. Parece ser meio óbvio e parece que vou falar da crise política ou do referendo. Mas só parece. Para falar a verdade não vejo muito como fugir desses assuntos, já que estão na crista da onda nacional.

Acredito que estão intrinsecamente ligados. Não sei se como siameses, ou se emaranhados como linha em carretel mal feito. Mas estão no mesmo bolo. E o bolo é maior que bolo de noiva, com mais cobertura e recheio.

Esse referendo é a mesma coisa que 6 e meia dúzia. Uma grande balela. Só gasto de tempo e dinheiro, porque questões relevantes não foram debatidas e o resultado concreto desse bafafá, será quase nulo. A única conclusão certa e relevante que temos, é que o brasileiro tá mesmo é se borrando de medo. Nem sim, nem não. Medo 100%.

Posso usar da minha vã criatividade para fazer conjunturas terroristas, golpistas, maquiavélicas, coisa e tal.

Umas das teorias, é o golpe que o Zé queria dar no país. Uma vez que ele é a cabeça pensante do PT e do Lula, que como já disse uma vez, a diferença entre o Lula e um polvo, é um dedo.

O Zé deu o brinquedinho para o Lula, um aviãozinho novo, para que esse, ficasse fazendo turismo pelo mundo. Por que se fosse para fazer negócios, não iria para a Venezuela e Zâmbia. A China, parecia uma boa pedida, mas os acordos feitos foram bons só para os amarelinhos. Assim enquanto o Presidente voa, o Zé pilota o país. Aparelhou o governo, queria tirar as armas e pronto, estava armado o pré-golpe. Faltava só o bote. Não deu certo.

Depois, tem a teoria conspiratória bushista. É, os Estado Unidos, com o poderio econômico-bélico, estava tramando uma invasão na América Latina, portanto queria que o povo brasileiro não tivesse arma para se defender e mandou o Lulinha, paz e amor, a propor o Estatuto do Desarmamento. Isso sem contar com a Base Norte-Americana no Paraguai. E tem outra, nossa indústria bélica, monstruosa, estava atrapalhando a indústria bélica americana. É de rir.

Não sei bem qual das duas parece ser mais plausível, mas acho melhor a versão inteiramente tupiniquim, sem o sotaque arrastado “greengo”.

Mas de uma coisa, tenho plena convicção: o referendo fazia parte do Mensalão. Afinal, custou, 270 milhões de reais, isso de custo direto. O esquema do Mensalão passava diretamente nas mãos dos publicitários, logo faço essa ligação.

Mas o que aprendemos mesmo com esse referendo, foi que o governo, e o seu maior representante, não me deixam mentir, não sabe falar, muito menos perguntar. O Lula quando abre a boca, fala merda. O governo ao fazer uma pergunta ao povo, a faz tão mal formulada que dificulta a resposta. Mas pior pergunta só para tumultuar, porque a pergunta é irrelevante. Afinal, para que simplificar?

Outra coisa que podemos ver, é que nossos parlamentares são covardes. Jogaram a responsabilidade de decidir para o povo ignorante. Brincadeira! E é para isso é que elegemos deputados e senadores.

Fica claro que os caras lá do planalto central, não estão nem ai para solucionar nada, ou ao menos atacar assuntos relevantes e começar a esquentar a democracia.

Se querem atacar a violência, é preciso atacá-la lá na raiz. E todos nós sabemos qual é. A desigualdade social. Vá ao site do IBGE. Leia os relatórios deles, sente e chore. Tira o ar do pulmão e enche de desespero.

A violência do nosso país não é causa é conseqüência.

Talvez fosse mais útil para nós perguntar para o povo o que ele acha da política de distribuição dos recursos nacionais. Será o nos queremos que somente 5% vá para a saúde e outros 5 para a educação, ou se queremos que 60% seja destinado a isso? Será que nos queremos que nossos deputados, senadores, presidentes, prefeitos, vereadores, sejam beneficiados pela imunidade parlamentar? Será que queremos que os privilégios acabem? Será que nos queremos que mais educação?

Será que os aproximadamente 30 mil mortos por armas de fogo, são tão assustadores quanto aos que morrem pela falta de atendimento médico, ou pelas mães ignorantes que ao invés de ingerir o anticoncepcional, enviam na xoxota uma cartela inteira antes de dar uma, e aí parem mais um coitado, que vai ficar no semáforo exibindo sua enorme barriga de verme, escorrendo ramela pelo nariz, analfabeto e estuprado pela sociedade, mas a mãe diz que tomou o remedinho? Ou tão assustador quanto a mortalidade infantil (34%)? Ou a prostituição infantil e exploração do trabalho escravo? Ou que somente 52% dos lares nacionais têm rede de esgoto? Ou será tão assustador quando o incrível número do IBGE sobre os 22%, aproximadamente 40 milhões, que sobrevivem com menos de meio, é, meio, salário mínimo? Será que isso tudo é violento? Isso tudo mata? Isso tudo destrói?

Não, é melhor discutir sobre o que 1% da população pode ou não, comprar a espoletazinha na loja do seo Joaquim, afinal, isso é muito violento. O resto não é.

Parece que não sabemos é fazer a pergunta certa. Ou talvez, saibamos qual é a pergunta, o que falta é a coragem para fazê-la.

[www.ibge.gov.br]

Fernando Katayama 24 out. 05

Tuesday, October 18, 2005

Armem-se


Estamos entrando em uma guerra. Haverão vencedores, haverão derrotados. Morrerão milhões. Sobreviverão outros milhões. Tardamos para começá-la. Quanto mais esperamos maiores serão nossas baixas.

Esta guerra sem código de ética não diferencia crianças, homens, mulheres ou cor da pele. Se é solteiro, casado, separado ou amontoado. Se é gay ou machão. E muito menos, é Santa. Não.

Salvam-se aqueles que podem, quem não pode, nela fica. Mesmo aqueles, que com dinheiro conseguiram se safar acabam, de uma forma ou de outra, recebendo as heranças dessa guerra sem precedentes. Percebe-se em todos os níveis da nossa sociedade.

Por isso apelo aqui: armem-se.

Preparem-se para a guerra.

Aliem-se aos seus amigos, vizinhos e parentes.

Municiem-se.

Distribuam munição a quem precisa, e de graça.

Armem-se. Municiem-se. Até os dentes.

É uma guerra sem data de início e muito menos sem data de final. Mas certamente, será longa.

Municiem-se de sabedoria. Inteligência. Conhecimento. De educação, da formal ou não.

Usem do mais alto calibre para o respeito. Granadas de humanidade.

Armem-se.

Pistolas de grosso calibre, rifles de longo alcance, morteiros, fuzis, metralhadoras e sub-metralhadoras. Bazucas. Canhões e tanques.

Alistem-se e recrutem.

Quanto maior a arsenal e mais soldados, maiores serão a chance de vencer esta guerra.

Lutem comigo contra a hipocrisia e demagogia. Guerreiam comigo contra a falta de respeito e a educação. Contra a malandragem e a esperteza. Contra a safadeza. Contra a ignorância.

Distribuam rajadas de educação. Dêem tiros diretos de democracia. Bombardeiem com esclarecimentos e tolerância.

Talvez assim, melhoremos o nosso mundo. Mas não se iludam que nessa guerra não haverão mortos. Pois a praga já mata. Em qualquer lugar existem milhares de mortos como esses. Olhe o ônibus lotado das 6, e enlatados como sardinhas, verá a grande quantidade de mortos transportados de um lado para outro.

Esses não me preocupam tanto, quanto os vivos que não ligam para esses mortos. E alguns piores, fomentam essa carnificina. Esses me metem medo.

Mas esses já estão mortos, de nada adianta nada. Rezem aqueles que têm fé. Me preocupa os que estão por vir. Lutemos por eles então.

Municiem-se.

Armem-se

E Amem-se.

Por Fernando Katayama 18 out. 05

Saturday, October 08, 2005

Rock Escola

Em um dia desses, zappeando minha tv, defrontei-me com um vídeo clipe dos anos 80, aliás parece haver um certo movimento retrô para essa época. Talvez seja até normal, que 20 anos mais tarde, aconteça a busca do que se perdeu naquele tempo. Foi assim nos anos 80, buscando os 60.

O vídeo que vi, parecia ser de baixa qualidade, para os padrões de hoje, mas na época, era de ponta. Imagens coladas, sobreposições quase amadoras e marcado claramente pelas roupas e o corte de cabelo. Mas letra e música, de primeira linha.

Para minha geração, hoje com seus trinta e poucos anos, crescemos no meio da explosão do rock nacional. Os Paralamas do Sucesso, Titãs, Barão Vermelho, Legião Urbana, Blitz, Rita Lee. Já ouvíamos Elis, Jobim, Vinicius, João, Gal, Caetano, Gil, Milton e Chico. A lista não pára por ai, mas ficaria imensa e também não estou aqui para listar os grandes nomes da música brasileira, e isso porque, nem cheguei a citar nomes mais antigos como Pixinguinha, Dorival Caime, Ari Barroso e alguns outros instrumentistas.

Acontece que eu notei que os grandes nomes da música brasileira continuam os mesmos. A moçada hoje canta Gil, Caetano, Barão, Milton, Elis, Tom, João, Paralamas, Legião e por ai vai! E olha só, até o Rei Robertão, e o tremendão Erasmo. E tem algum problema nisso? Nenhum.

Acho bom, já que a música é da mais alta qualidade. Porém, me pergunto: porque é que não aparecem nomes de qualidade na música brasileira? Posso ir além e me estender para as artes, arquitetura, poesia e literatura. O cinema sai fora, afinal estamos crescendo, um certo Walter, mostrou que para ter recurso é preciso fazer filme com qualidade, que por conseqüência atrai investimentos. Mas fora o cinema, não há um movimento grande no cenário cultural nacional.

Já ouvi que isso aconteceu porque a Ditadura Militar sufocou o povo e então, os cabeças, usavam a música para mostrar a indignação atrvés das mensagens disfarçadas e encobertas pelas letras e poesias, então, surgiram nomes como Elis Regina, Tom Jobim e Chico Buarque, isso durante os anos 60 e 70. Já nos anos 80, as bandas de garagem, vieram com o movimento das Diretas Já, e com a abertura puderam cantar o que estava preso.

Para mim, isso é uma análise muito simplista e podre para falta novos nomes. Não é possível justificar a carência cultural pela falta de um regime totalitário, se não, Cuba teria os maiores representantes das artes e ciências uma vez que, a Ditadura de Fidel, perdura a mais de 40 anos. A China teria sido o templo, um milhão de habitantes e a Ditadura de Mao Tse Tung, sem contar o Chile de Pinochet, Portugal de Salazar, a Espanha de Franco, Itália de Mussoline e por fim, toda a Europa tomada por Hitler. Deveríamos então aplaudir em pé os ditadores, pela sua enorme colaboração com a cultura.

Mas o que seria de nações que não tem em sua história períodos totalitários? Rolling Stones e Beatles não estariam até hoje nas rádios. Elvis não teria rebolado. Janis Joplin e Jimmy Hendrix não teriam fumado, cheirado e tomado os tubos em Woodstock.

Então não cola justificar assim.

Concordo que o mundo hoje é outro. Que a velocidade do mundo é outra. Que o comércio também imprime uma força destrutiva atrás do lucro sem piedade. Mas mesmo assim, não justifica.

Cantorezinhos e grupinhos feitos para o verão, acabam no verão. Bunda de fora, peito de silicone, música de dois tons e um semi-tom e letra estúpida com um pouco de sacanagem e só. Sabemos que são produtos de pouquíssima durabilidade. Então não me preocupo.

Preocupa-me, não ver coisas sólidas surgindo.

Não é por falta do que lutar e nem de lutar contra alguma coisa, como se costuma justificar. Afinal, a vida é uma luta, sempre. Lutar para conseguir um trabalho e lutar para se manter lá. Lutar para ser honesto no meio de tanta corrupção. Lutar para construir um mundo melhor. A vida moderna é cheia de lutas diárias. Talvez, a luta contra nossos maiores medos, contra nossos anseios, contra nossas insatisfações e frustrações. Não me diga que não há luta e, portanto, não justifica a falta de cultura pela falta de “inimigo”.

Então, o que é que acontece?

Acredito que o grande buraco de nossa história esta na falta de educação. Educação no seu contexto geral.

A escola cada vez pior. O declínio já era sentido por mim, no início dos anos 90, e de lá para cá a coisa só piorou. E piorou rápido. Isso sem contar com os pais que jogam a responsabilidade da educação para a escola, que por sua vez, é horrível.

Como teremos cultura em um país inculto?

A escola preocupada em passar no vestibular como um adolescente de 17 anos, não forma seus alunos, apenas informa-os. Não há como dissertar com as novas gerações, e cabe ai, alguns dos meus.

Provavelmente é por isso, que não há valores novos no cenário cultural. Todos que estão ai, até os mais novos, já estão ficando velhos, de idade, é preciso frisar, porque, coisas de qualidade, são atemporais. O que mostra o não surgimento de novos valores. Não estou falando daquele pessoalzinho produzido para o verão. Estou falando de gente de qualidade alta. Hoje, não há como criar crítica. Como disse Jesus, meu ex-professor: “esses jovens de hoje, parecem todos cabeças de vento”.

E mais uma vez, Elis cantará certamente: “e nossos heróis são os mesmos dos nossos país”.
Fernando Katayama 08 out. 2005

Monday, October 03, 2005

Falta de Mira

Hoje assisti pela primeira vez o horário de propaganda gratuita. Ou seja, publicidade, para quem não sabe, publicidade e propaganda são coisas diferentes, assim como marketing é também diferente dessas outras duas. Mas, não estou aqui para falar disso.

Estamos a poucos dias do referendo. Esse ato democrático quer que a população decida se pode-se ou não comercializar armas de fogo e munições. Seria estranho poder vender a arma e não poder municiá-la ou então não vender o revólver, mas poder comprar a “bala”, mas enfim, vamos ter que ir lá, dizer sim ou não. E como disse, assisti ao programa hoje. Já havia escutado no rádio em algumas vinhetas.

De um lado da guerra o pessoal do Sim, do outro o pessoal do Não.

O pessoal do Sim, usa todas as suas armas: artistas famosos, caras de dó e um grande apóio da mídia. No discurso, apontam as desvantagens de se ter uma arma de fogo em casa. Hoje o sujeito do programa perguntou quem era que lucrava com isso. Dizem que é perigoso e que pode voltar-se contra você. E que é a causa da violência. E outros blá, blá, blás.

Já o pessoal do Não, usa também todas suas armas: cenas, depoimentos e um certo apóio da mídia. Apontam as desvantagens de não poder ter a tal arma de fogo em casa. Dizem que é direito nosso, e que não podemos abrir mão dele. Dizem que bandido não compra arma na loja e que não usam armas dos calibres permitidos por lei, lógico, eles são contra lei, afinal são marginais. E que nós, devemos nos proteger. Usam outros blá, blá, blás.

Concordo com os dois. Armas, de qualquer tipo, são perigosas. E bandido não compra na loja. Mas acredito que estão usando a emoção para tentar convencer o eleitor. Todas as campanhas estão voltadas para o lado emocional. E se apóiam na base errada.

Vejamos sobre o que é o referendo: “proibição do comércio legal de armas e munições”, e é nisso que eu vou me basear, para discutir aqui com vocês.

Proibir o comércio é simplesmente não permitir que se comercialize qualquer coisa, então é importante sublinhar a palavra legal. Legal, legalizado, dentro da lei. Conceito fundamental.

Porque digo isso? Oras, não estamos discutindo se a violência aumentou ou diminuiu, não estamos discutindo quais são as causas, muito menos, sobre soluções. Estamos discutindo sobre o comércio legal.

Fico me perguntando porque proibir o comércio legal de qualquer coisa. Justificar que as armas matam, não me parece uma justificativa forte para impedir o seu comércio, afinal o cigarro também mata. Carros também matam. E então deveremos proibir o comércio legal deles?

O Brasil não esta maduro o suficiente para proibir o comércio. Nossa economia esta agora querendo dar sinal de que vai crescer. E proibir de comercializar qualquer coisa legalmente não me parece ser a melhor das soluções. Tenho inúmeros exemplos de coisas que são ilegais e que geram muito, mais muito lucro mesmo, para os donos das bancas e traficantes, mas nada para nós, já que não pagam impostos.

Pergunto como é que vamos proibir, por exemplo, a pirataria de cd’s? Ou então o jogo do bicho? Quem sabe o tráfico de drogas? Ou então o de armas mesmo? E aqui no Brasil onde, tráfico de influência é crime, estouram as CPI’s, agravada pelo Escândalo do Apito, como vamos proibir o que é legal?

Para fazer a análise, não podemos usar o coração, ser passionais ou simplesmente engolir o que estão tentando nos colocar goela a baixo.

Sem essa de dizer, como o carinha lá da tv, e dizer que quem lucra é o fabricante. Lógico que é ele, afinal negócios são para ser lucrativos e gerar divisas e empregos. Também não adianta nada falar que o bandido usa arma, ele usa sim, mas não as consegue em lojas. Justificar também que é nosso direito, me parece igualmente fraco, direito temos um monte, e pouco são respeitados, inclusive, caso você não tenha se tocado, votar é um direito, mas aqui não, votar é uma obrigação.
Nós temos direito a tantas outras coisas, e não cobramos por eles.
É também fraco o argumento que possuir a arma é que vai nos dar a segurança, que é um direito nosso, que o Estado não dá. Muito pior então comparar o Brasil ao Japão, como no programa, onde alguém falou que no Japão a própria polícia não usa armas. E é verdade. Mas japonês não sabe o que é ser “esperto”, “não entende de malandragem” e por incrível que pareça, não passa na cabeça deles, roubar. Não sabem o que é tráfico de drogas. E querem saber mais? Políticos corruptos se suicidam, de vergonha e desonra. Definitivamente não cabe comparação.

Portanto ao ir lá na urninha votar, pense sobre o que é que esta proibindo e quais são as conseqüências do seu ato.

Fernando Katayama 3 out. 05