Sempre tenho um dilema, toda semana fico pensando o que escrever. Parece ser meio óbvio e parece que vou falar da crise política ou do referendo. Mas só parece. Para falar a verdade não vejo muito como fugir desses assuntos, já que estão na crista da onda nacional.
Acredito que estão intrinsecamente ligados. Não sei se como siameses, ou se emaranhados como linha em carretel mal feito. Mas estão no mesmo bolo. E o bolo é maior que bolo de noiva, com mais cobertura e recheio.
Esse referendo é a mesma coisa que 6 e meia dúzia. Uma grande balela. Só gasto de tempo e dinheiro, porque questões relevantes não foram debatidas e o resultado concreto desse bafafá, será quase nulo. A única conclusão certa e relevante que temos, é que o brasileiro tá mesmo é se borrando de medo. Nem sim, nem não. Medo 100%.
Posso usar da minha vã criatividade para fazer conjunturas terroristas, golpistas, maquiavélicas, coisa e tal.
Umas das teorias, é o golpe que o Zé queria dar no país. Uma vez que ele é a cabeça pensante do PT e do Lula, que como já disse uma vez, a diferença entre o Lula e um polvo, é um dedo.
O Zé deu o brinquedinho para o Lula, um aviãozinho novo, para que esse, ficasse fazendo turismo pelo mundo. Por que se fosse para fazer negócios, não iria para a Venezuela e Zâmbia. A China, parecia uma boa pedida, mas os acordos feitos foram bons só para os amarelinhos. Assim enquanto o Presidente voa, o Zé pilota o país. Aparelhou o governo, queria tirar as armas e pronto, estava armado o pré-golpe. Faltava só o bote. Não deu certo.
Depois, tem a teoria conspiratória bushista. É, os Estado Unidos, com o poderio econômico-bélico, estava tramando uma invasão na América Latina, portanto queria que o povo brasileiro não tivesse arma para se defender e mandou o Lulinha, paz e amor, a propor o Estatuto do Desarmamento. Isso sem contar com a Base Norte-Americana no Paraguai. E tem outra, nossa indústria bélica, monstruosa, estava atrapalhando a indústria bélica americana. É de rir.
Não sei bem qual das duas parece ser mais plausível, mas acho melhor a versão inteiramente tupiniquim, sem o sotaque arrastado “greengo”.
Mas de uma coisa, tenho plena convicção: o referendo fazia parte do Mensalão. Afinal, custou, 270 milhões de reais, isso de custo direto. O esquema do Mensalão passava diretamente nas mãos dos publicitários, logo faço essa ligação.
Mas o que aprendemos mesmo com esse referendo, foi que o governo, e o seu maior representante, não me deixam mentir, não sabe falar, muito menos perguntar. O Lula quando abre a boca, fala merda. O governo ao fazer uma pergunta ao povo, a faz tão mal formulada que dificulta a resposta. Mas pior pergunta só para tumultuar, porque a pergunta é irrelevante. Afinal, para que simplificar?
Outra coisa que podemos ver, é que nossos parlamentares são covardes. Jogaram a responsabilidade de decidir para o povo ignorante. Brincadeira! E é para isso é que elegemos deputados e senadores.
Fica claro que os caras lá do planalto central, não estão nem ai para solucionar nada, ou ao menos atacar assuntos relevantes e começar a esquentar a democracia.
Se querem atacar a violência, é preciso atacá-la lá na raiz. E todos nós sabemos qual é. A desigualdade social. Vá ao site do IBGE. Leia os relatórios deles, sente e chore. Tira o ar do pulmão e enche de desespero.
A violência do nosso país não é causa é conseqüência.
Talvez fosse mais útil para nós perguntar para o povo o que ele acha da política de distribuição dos recursos nacionais. Será o nos queremos que somente 5% vá para a saúde e outros 5 para a educação, ou se queremos que 60% seja destinado a isso? Será que nos queremos que nossos deputados, senadores, presidentes, prefeitos, vereadores, sejam beneficiados pela imunidade parlamentar? Será que queremos que os privilégios acabem? Será que nos queremos que mais educação?
Será que os aproximadamente 30 mil mortos por armas de fogo, são tão assustadores quanto aos que morrem pela falta de atendimento médico, ou pelas mães ignorantes que ao invés de ingerir o anticoncepcional, enviam na xoxota uma cartela inteira antes de dar uma, e aí parem mais um coitado, que vai ficar no semáforo exibindo sua enorme barriga de verme, escorrendo ramela pelo nariz, analfabeto e estuprado pela sociedade, mas a mãe diz que tomou o remedinho? Ou tão assustador quanto a mortalidade infantil (34%)? Ou a prostituição infantil e exploração do trabalho escravo? Ou que somente 52% dos lares nacionais têm rede de esgoto? Ou será tão assustador quando o incrível número do IBGE sobre os 22%, aproximadamente 40 milhões, que sobrevivem com menos de meio, é, meio, salário mínimo? Será que isso tudo é violento? Isso tudo mata? Isso tudo destrói?
Não, é melhor discutir sobre o que 1% da população pode ou não, comprar a espoletazinha na loja do seo Joaquim, afinal, isso é muito violento. O resto não é.
Parece que não sabemos é fazer a pergunta certa. Ou talvez, saibamos qual é a pergunta, o que falta é a coragem para fazê-la.
[www.ibge.gov.br]
Fernando Katayama 24 out. 05