Sunday, May 17, 2009

Suite 40

As possibilidades são infinitas. A porta fecha.
Naquela tarde de sol de um Domingo, que não seria como outro qualquer, tudo poderia acontecer.
Tinha jogo de futebol. Talvez fosse a final do campeonato. Não importava . O campeão já estava definido, seria impossível para o adversário reverter a vantagem. Passava também algum filme já reprisado por uma centena de milhares de vezes. Certamente, um programa horroroso dominical estava no ar. A rádio tocava algum top 10. Nada disso é diferente de algum outro domingo de sol.
Uns lavam o carrão. Outros dormem no sofazão com a barriga de fora, depois do almoço familiar, e roncam. Teve lazanha. Alguns, mais jovem, dançam o pagode no churrasco entre amigos. No clube, as meninas de pele dourada tomam sol à beira da piscina, causando frisson, e desfilando maravilhosos pares de bundas. Uns foram a missa pela manhã, outros irão à tarde.
Alguns mais pacatos lêem seu livro, deitado na rede, sentindo a brisa fresca na sacada. Uns só escutam os pássaros e contemplam a natureza. E outros esperam o tempo passar, já com o sentimento que o Domingo vai acabar, que o Fantástico já vai começar e a rotina da Segunda-Feira vai começar logo pela manhã.
E tudo isso seria verdade, se o medo de arriscar não fosse colocado de lado. De deixar o cotidiano meticulosamente desenhado para ser repetido, repetido, repetido, repetido, repetido, e quebrar os códigos osmoticamente empregnados. Seria um Domingo qualquer.
Mas então a porta fechou-se e tudo mudou.
Não existia mais dia. Não era mais final de semana. Era apenas, lá dentro.
Os corpos, dois, movem-se como um. Sincronia. Sintonia. Acrobacia. Beijos, abraços, suor. O gosto gostoso. Conversas infinitas. As horas, já não se contam mais, não há sentido nisso. Perde-se as horas. A cabeça sobre o peito. O coração pulsa acelerado em estado de repouso. O tremor do corpo. A pele macia e perfume de mulher. O sorriso marroto. A gargalhada escrachada. O êxtase em suas mil formas. Sede que quero mais. Boca seca do grito e o beijo molhado.
A porta fechou e então todas as possibilidades infinitas se abriram. Não era um Domingo qualquer.
Basta arriscar.

Música: Human - The killers
Por Fernando Flitz Katayama, Toronto, On Canada 17 May 2009
Aqui a música desse artigo

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2 comments:

Giuliana Gallana said...

Me identifiquei super. Pena serem poucos os que realmente têm coragem de arriscar, né?
Beijoca

Elaine Caires said...

Adorei este texto ele me fez lembrar coisas que poderia ter mudado e talvez não estaria passando o que eu estou passado, se não fosse o medo de tentar... Parabéns anjo muito bom, muito bom mesmo adoreiiii