Aconteceu em meados de 70, quando eu usava o cabelo em forma de tigela. Era primavera, como hoje, só que no hemisfério do sul e certamente, estava mais quente. Não me lembro quantos anos tinha, estava na escolinha. Sentado em um carrinho de madeira, dei com a testa na quina. Sangue para todo lado, e uma cicatriz na face. Lembro que chorei. Acho que chorei mais de desespero de ver minha irmã chorando ao me ver, em todo aquele sangue, do que de dor, porque não me lembro da dor. Mas me lembro do choro. Tenho então 13 pontos na testa. Nessa época, lembro das minhas brincadeiras na rua, de subir na árvore e correr pelo quintal, com meu fox paulistinha, Bilú. E Bilú, com todo seu porte de fox paulistinha, era fiel e feroz. Uma fera de 5 quilos.
Já nos anos oitenta, década de ouro, destruí uma bicicleta caindo de fuça no chão. Estava com um amigo, e sentado na poça de sangue, pedi que fosse chamar a mãe dele, já que o hospital me esperava mais uma vez, e talvez se tornasse rotina em minha vida. Logicamente, alguns pontos, e a cicatriz na cara. Mas esse período não deixou só marcas de acidentes, foi marcado pelas bandas de rock, pela adolescência e descobertas.
Em oitenta, ouvindo os então novos, Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Blitz e tantos outros do rock nacional, fazia viagens com a escola e acampamentos com meus amigos-escudeiros, em lugares remotos, onde quanto pior, melhor. Fui à praia de ônibus, em uma saga aventura. Começaram as paqueras, e descobri que meninas não eram tão chatas assim e que no fundo, gostava delas. Romancezinhos ingênuos. E o drama da adolescência.
Quando vi, duas décadas tinham se passado, e eu já tinha uma porção de histórias para contar. Mas em 90, no auge da juventude, sem tanta ingenuidade dos 80, aconteceram coisas como vestibular, festas de gente grande, inúmeros dias de ressaca, a noite anterior certamente foi uma festa, e não necessariamente festa em final de semana, porque todo dia, era dia de festa, e que festas!
Fui também conhecer o mundo. Rodei de mochila por ai. Visitei lugares e mais lugares. Tem lugar que nem sei onde é que estava, como a vez que tive que negociar com um policial de fronteira, de um país do leste europeu, meu passaporte de volta. Ou no Japão, quando vi o monstruoso e gigantesco Monte Fuji. Cada viagem daria um livro.
E logicamente com tantas viagens e festas, romances e mais romances, amores e desamores tinham que acontecer.
Lembro de Beatriz, menina-moça que me tirava do sério com suas formas. Menina nem grande, nem pequena. Média. Seios médios e bunda média. Tudo médio em harmonia. Tinha tudo ali, a ingenuidade pós-adolescência e com a sensualidade de uma mulher. Era uma coisa de enlouquecer qualquer moleque no pico da porra na cabeça.
Ana e suas coxas grossas, lábios carnudos e batom vermelho. Uma mulher. Era mais velha que eu, e não se importava. Luiza e seu beijo espetacular e o amor infinito, até que acabou. Da paixão avassaladora por Mariana, que o fogo consumiu. Do namoro tranqüilo com Carolina. Do romance secreto que tive, e sou impossibilitado de revelar o nome, mas posso dizer que ela era linda, de parar o transito. Uma delícia de mulher com seu corpo maravilhoso, peitos, bunda, cabelo, beijo espetacular e além de tudo, éramos grandes amigos.
Ou então dos diversos casos casuais, entre festas e fogos, que contam cada um, um romance passageiro, que talvez, fosse só de uma noite trancado em um quarto de hotel. Paixões de momentos e instantes.
Agora, 30 anos depois da testada que dei, continuo a colecionar pontos e cicatrizes. Continuo a viajar pelo mundo de mochila. Ouço ainda as bandas de garagem dos anos 80, elas continuam muito boas. Continuo tendo romances e mais romances.
Isso tudo porque acredito que a vida é um livro em branco, e resta a nós escrevermos as histórias. Minhas histórias são do passado e do presente e agora vou escrever histórias para o futuro.
Música: Será - Legião Urbana
Por Fernando Flitz Katayama, Toronto, On Canada 17 April 2008
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