Thursday, January 25, 2007

Bill, Hillary e Billary

Era sábado. Parecia que o inverno iria dar as caras e esfriaria. Enfim nevaria e pareceria um inverno normal. Mas não foi o que aconteceu. Continuou esse inverno esquisito. Janeiro quente e sem neve. Nesse estranho dia de inverno aconteceria o que muitos já esperavam. Não é uma surpresa, mas é um fato marcante.
Foi nesse sábado que a Senadora Democrata Hillary Clinton oficializou sua corrida à Casa Branca. Como disse, nenhuma surpresa. Mas é um fato marcante na história americana. Hillary foi primeira-dama, e é a primeira primeira-dama a se candidatar ao maior cargo político dos Estados Unidos.
Foi providencial o lançamento de sua candidatura. Terça-feira, uns dias depois, o presidente Bush, faria seu discurso para o endossamento do Congresso, que é majoritariamente Democrata.
Os críticos políticos dizem que uma das grandes coisas que ela tem, é ter Bill Clinton a seu lado. Penso que foi diferente. A grande coisa que Bill Clinton teve, foi ter Hillary a seu lado. Foi ela quem segurou a onda, quando pediram o impeachement, no caso da Mônica Chupeteira. Hillary não só segurou a barra do maridão, como lavou o vestido guardado por um ano, sujo de porra.
Hillary é hoje uma das mulheres mais fortes dos EUA. Tem a seu lado, a maioria do Congresso. E tem como maior aliado, o presidente Bush, que de tão incompetente, continua fazendo as asneiras costumeiras, destruindo a popularidade Republicana. Em seu discurso no Congresso na última terça-feira, reforçou sua falida investida no Iraque e ainda ameaçou o Irã, indo contra o Congresso, contra os próprios republicanos e sem dúvida alguma, contra a opinião pública.
A corrida para a Casa Branca ’08 parece ter já nome certo. Se não houver mutretagem, como nas eleições passadas, os críticos acreditam na vitória de Hillary.
E me parece uma boa escolha. Hillary terá o trabalho de refazer tudo que Bill havia feito e o débil do Bush desfez, e mudou a geopolítica mundial. Coisa nada fácil, ainda mais com o barril de TNT que é o Oriente Médio e o fanatismo religioso-político que rege a região.
Se de fato o fizer, Hillary entrará para o Hall dos Presidentes, não só como político mas também como a primeira mulher na Casa Branca e a ex-primeira-dama presidente. E Bill será o primeiro ex-presidente com a mulher presidente.
Resta à nós esperar, agüentar o Bush e ver se Hillary leva essa.

[música do texto: Homem Primata – Titãs
Por Fernando Katayama New York, NY, 25 jan 07

Wednesday, January 17, 2007

Sonho que Não Tem

Aqui em um inverno atípico, não neva. O frio não esta nada amedrontador. Dizem que é influência do El Ninõ e da El Ninã. E de longe acompanho o Brasil, onde as influências do El Ninõ e da El Ninã são maiores. Não porque lá eles são mais fortes ou porque o tempo não gosta do Brasil, mas é mesmo porque o descaso potencializa a desgraça. Daqui vejo, a terra querer engolir o Brasil, comendo São Paulo em uma cratera e Minas Gerais em outra. Parecem querer fazer o Brasil sumir do mapa. Deve ser de vergonha das barbáries que por lá acontecem. Enquanto isso, o povo espera a salvação, e que venha pelas antenas de tv.
Falta ao Brasil muita coisa, temas que já discutimos bastante por aqui. Temas como educação, saúde, segurança. Mas falta-lhe algo mais profundo e muito mais abstrato. Falta-lhe sonho. Falta a busca de uma utopia.
Não é permitido sonhar. Tem que se viver a vida, no dia-a-dia da sobrevivência, sem poder sonhar com o amanhã. Não existem mais os sonhadores loucos, que buscam alguma coisa que talvez nem exista.
Querer buscar uma utopia é coisa a ser totalmente desencorajada, é preciso pagar as contas. Utopia, por principio, nunca é alcançada, mas o esforço de alcançá-la é essencial. É esse esforço que trás as inovações, os sonhos, as novas realidades, sem isso é a pura estagnação.
Não é permitido sonhar. É preciso fazer o prato de comida. O leite das crianças. A roupa. Encarar a morte como vontade de Deus, mesmo que tenha sido na porta do hospital. É preciso tijolo ao invés de madeira, para vedar o barraco, tijolo é a prova de bala. Não dá tempo para sonhar.
Ao moleque de ranho escorrendo pelo nariz e barrigudo que empina a pipa, resta viver a infância curta, sem sonho. Ele já sabe do seu futuro, se é que esse existirá.
Não há a busca da utopia. Parece que todos estão cansados. O desânimo é geral assim como a descrença. A falta de sonhadores, idealizadores e líderes estagnou o país em sua miséria. Parado, o Brasil se vê ser engolido pela terra.
Esquece-se que o sonho é fundamental à busca. Como me disse meu pai, certa vez: é preciso sonhar para poder ter.

[música do texto: Dreamer - Supertramp]
Por Fernando Katayama New York, NY 17 jan 06

Sunday, January 07, 2007

A Menina-moça não é mais virgem

Ela tem doze anos. Menina-moça. Franzinha. Magrela. Pequena. Frágil. Faminta. Sem a mínima educação. Já tão novinha e toda esfarrapada e cheia de curativos. Algumas das feridas purgam. Nasceu apanhando do pai. E acreditem, nem virgem é mais. Foi estuprada por anos à fio, mesmo quando era mais nova. Faziam fila ao coito. Ainda hoje, sofre alguns abusos. E hoje, com doze anos, esta perdida em meio a tiroteios e balas perdidas.
A Democracia Brasileira esta amedrontada, encolhida em um canto da sala. Jogada à deus dará, vê sem entender nada desse pandemônio que passa o país.
Para ela, seu país é gigante pela própria natureza, belo, forte e impávido colosso, o que contraria com tudo que vem assistindo ate agora.
Sua vida é marcada por dor. Sua concepção foi assim. Palanques, que reuniam amigos, com a mesma vontade. Depois se tornaram inimigos vorazes de posicionamentos e vontades opostas, e hoje continuam inimigos-amigos com posicionamentos e vontades nem tão divergentes.
Em parto estava rodeada por parlamentares, que aos berros, diziam “sim” ou “não”, depois de longos discursos chatos e evasivos. Seu nascimento foi marcado pela morte do Presidente. E isso foi há doze anos. Antes disso, era viva a prima-má, Ditadura.
Hoje, o país vive o total desgoverno de suas entranhas. Talvez, seja a colheita da plantação da prima-má, talvez, resultado da descontinuidade do processo iniciado com o Vice*1, depois, pela fase Collorida*2, seguida muito de perto pela Topetuda sem Calcinha*3, pelo Tucanato e agora pelo Lulupetismo. Todos que só olharam e olham para o próprio umbigo. Parlamentares que não respeitam Mãe Constituição e adoram se divertir com as filhas da Geane.
Senadores e Deputados são tão responsáveis pela desordem quanto os presidentes de todos esses poucos anos, pois nada fizeram e fazem para fortalecer a frágil Democracia que estava crescendo. Lula veio agravar a situação, com sua falta de política para o crescimento econômico e o deslumbramento do seu sonho egoísta. E para piorar, agora parece que quer ficar deitado em berço esplêndido.
Esse é um momento delicado para a Democracia. O caos esta crescendo de forma alucinante. Lula promete crescimentos imaginários, sonhadores e irreais, para tentar amenizar a desgraça em que se encontra. Solta noticias de aumento do miserável salário mínimo e o incremento do pilar eleitoreiro, o bolsa-familia.
A sua reeleição mostrou a total impunidade dos crimes em todas as esferas da sociedade, retificada pelo ignorante povo. E as fraquezas do velho e caquético sistema judiciário deram abertura para o desbunde das facções criminosas que hoje, comandam o país. Mostraram seu poder em São Paulo e agora, detonam o Rio de Janeiro, esperando o Carnaval, mas já armando o maior salseiro.
Não é uma guerra civil propriamente dita, já que não é uma disputa com intenções políticas claramente declaradas, mas vive-se com tiros por todos os lados. Não é uma revolução sanguinária, mas morrem muitos em vão. Não é uma guerra santa, ficaria difícil definir o Diabo nesse caso. São ações terroristas contra a sociedade civil. Analistas não assumem, e dizem que ataques terroristas são sempre com fundos políticos, religiosos ou ideológicos, mas é difícil não pensar que existe fundo político.
E esse momento coloca a Democracia em xeque.
Colocar ou não o Exercito na rua? Votaria a assombrar a alma penada da prima-má? Ratifica que o Governo em sua totalidade é incompetente? Que a polícia não da conta do recado? Que o poder marginal é realmente muito mais poderoso?
E ainda existe a grande chance do Exercito não dar conta também. Mal preparado, mal equipado, mal formado, sem logística, pesado como o Ronaldo na Copa (lento por demais) e sem dinheiro. Conseguirá conter a esperteza, a leveza e o poder da marginalidade, que tem como fonte de renda drogas e armas (ou seja, muito dinheiro)?
Se o Brasil não conseguir em curto prazo modificar radicalmente o modo-operantis do Estado, fazer o país crescer de forma significativa, gerar divisas e ainda por cima, conseguir melhorar a distribuição de renda (de forma concreta) e refazer o poder judiciário e acabar com a corrupção de maneira eficaz, a podre menina-moça da nossa Democracia, corre um serio risco de morrer.

[música do texto: Rabisca Robson – Farofa Carioca]
[Notas: *1 –José Sarney e a Hyperinflação / *2 – Collor, eleito direito / *3-Itamar na capa com a gostosa sem calcinha no baile de carnaval]
Por Fernando Katayama New York, NY 07 jan 07