Thursday, September 27, 2012

Inútel! - Não Vote.

Era 1985 e eu estava em um ônibus escolar, indo fazer um estudo fora da escola. Era chamado “estudo do meio”, onde aquela criançada toda, ia visitar alguma coisa, em algum lugar e aprender coisas. O mais divertido do passeio era poder sair da escola, e ir fazer coisas fora do cerco. A viagem em si, ou melhor, o translado, de ponto A a ponto B, era o mais bacana. Além das paquerinhas da turma do fundo, a qual eu estava engajado, cantávamos as músicas que eram os hits da época. Na verdade não entendíamos muito, o que realmente o que dizia. Era aquela coisa de criança, ingênua, preocupado com a prova de matemática e com a mocinha do lado, e não sabíamos que muitas delas tinham algum mote.

Eu e minha turma, acompanhamos de perto a transição do período militar à democracia. Vi a votação de Trancredo Neves pela tv, mesmo que, sendo uma eleição indireta. Vi ele morrer. Foi dado como herói, mas depois vim a descobrir as histórias do Café com Leite. Vi também o movimento Diretas Já, com Ulysses Guimarães, FHC e Lula de mãos dadas no palanque. Vi a Democracia Corinthiana jogar e um gol de calcanhar do Dr. Sócrates contra o meu time do coração. Votei aos 16, na maior ingenuidade, sem saber de nada. Votei mais umas duas vezes, mas muito mais consciente do que fazia. Passaram-se uns anos e eu então, comecei a entender mais sobre democracia. Sobre o exercício da democracia e o que isso significa. Então, resolvi parar de votar e há alguns anos atrás comecei a minha campanha: Não Vote - contra a obrigatoriedade do voto.

E hoje, nessa eleição, entro mais à finco em minha campanha.

Estou mal impressionado com a falta de seriedade da política nacional e com a falta de valor que é dada a democracia. Não adentrarei ao espanto que tenho, ao ver o povo brasileiro, melhor economicamente, é verdade, mas olhando para a perspectiva socio-cultural, o abismo é maior do que o abismo econômico, da época da hiper-inflação de 1985. A imaturidade que eu tinha aos 16 anos, parece permanecer na cultura política nacional.

Ando pelas ruas e o que parece que eleição é final de copa do mundo ou dias de carnaval. Bandeiras, flâmulas, cartazes fazem a festa dos cabos eleitorais, que não entendem nada de representatividade, comprometimento e valores, e os candidatos também não. Os candidatos são, em sua grande maioria, despreparados à gestão pública. São pessoa que talvez até tenham boa vontade, mas de boa vontade o inferno tá cheio. Tem(1) o Serginho do Lanche e a Sueli do Bar, que vão providenciar a festa. O Roberto Mussum, vai fazer a piada, cacildis! O Enfermeiro Rogério vai levar o Engov. Tem até o Chupim, que deve ser o mais honesto de todos. E assim vai, dentre os 740 candidatos da minha cidade. É de dar medo. Precisamos de gestores públicos não advogadinhos de porta de cadeia, donos de bares ou ex-jogador de futebol e a garota da última Playboy.

O sistema de eleitoral é equivocado e míope. Confunde a democracia representativa com baderna. Políticos se escondem através de apelidos hilários e coligações absurdas. Não a seriedade. Não há comprometimento. E parece que todo mundo aqui quer mamar nas tetas do governo, e o único motivador dessa massa, é de fazer parte desse sistema deformado.

Ao meu ver, não deveríamos ser obrigado a ir lá exercer nosso direito ao voto. Leia de novo, direito ao voto. Se é direito, não pode ser uma obrigação. Sendo obrigado, não é uma atitude democrática. Democracia é baseada em direitos e deveres. Devo eu, cidadão, ser responsável e ir exercer meu direito, se assim o entender. Não ser obrigado, a exercer meu direito, que ai é uma obrigação, assim como para nós homens, ir nos alistar no Exército, e rezar para o excesso de contingente. Na democracia representativa, devemos ter o direito de voto e escolher quem nos vai representar. Porém, podemos também escolher se queremos ou não exercer ou abster. Vejam vocês que os nobres deputados, senadores, vereadores, têm esse direito democrático de abster-se do voto. Nós, o povo que ele representa, não. É uma incoerência absurda. Eu, sou obrigado a votar. O representante, não.
Indo um pouco mais além, acredito que, a mudança para voto facultativo, implicará na mudança do discurso, do político e do cidadão. O político terá que não só me convencer que é importante eu votar, e exercer meu direito de cidadão, mas que é importante a votar nele. Para me tirar de casa, será muito mais difícil. Ele terá que ter muito mais comprometimento para com o cidadão. Ao invés de 740 candidatos, deveríamos ter 30, no máximo, para a cidade toda. Afinal para se candidatar, é como uma corrida de 100 metros rasos nas Olimpíadas. O corredor passa por um milhão de seletivas para ver se é possível entrar para o time. Depois tem os milhões de provas seletivas, quartas de final, semi até finalmente chegar, às finais.

Aqui está tudo errado, e ser político não é representar o povo, mas sim representar-se ou à interesses de terceiros.

Cidadão, cumpra seu dever e NÃO VOTE. Pague a multa, faça churrasquinho na lage, vá à praia. NÃO VOTE. Mas se for votar, faça com consciência. Não faça por “protesto” ou “no menos pior” ou “contra o outro”. Faça com a convicção do seu coração.

E hoje, finalmente entendo o Ultraje à rigor: “ a gente não sabemos escolher presitende / Inútel” (3).

Notas* : 
1 - os nomes dos vereadores são verídicos: fonte: 
http://divulgacand2012.tse.jus.br/divulgacand2012/abrirTelaPesquisaCandidatosPorUF.action?siglaUFSelecionada=SP

procure por Campinas, e leia-os. Você deverá encontrar todos, com suas legendas e números.


2 - conheça um pouco de como funciona a Câmara do Deputados, por exemplo:


http://www2.camara.gov.br/atividade-legislativa/processolegislativo/fluxo/plTramitacao/plPlenario/conteudoFluxo/08.html
3 - o erro gramatical é proposital
Música: Inútil - Ultraje à rigor -  Vamos invadir sua praia - 1985



Por Fernando Flitz Katayama, Campinas Brasil Setembro 2012


Aqui a música desse artigo

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Monday, September 24, 2012

Batman e o Barbosa

Outro dia fui ao cinema. Peguei o super-telão, que eles chamam de iMax. É uma tela gigante. O som é de estremecer. Tudo para o efeito espetacular ser potencializado a máxima e assim dar mais envolvimento ao filme. Peguei o super-telão para ver o super-héroi. Com sua capa preta, automóvel fantástico e seu cinto de utilidades. Batman é um filme sombrio. O ricaço que não tem muito o que fazer e quer brincar com brinquedinhos, que qualquer um iria adorar. Milionário recalcado, Batman luta contra os bandidos e a corrupção da suja Gothan City. Fala pouco, mas bate muito. Batman é o único super-héroi que não tem super-poderes.

Outro dia liguei a televisão. Minha TV é das antigas, e andou dando defeito, na placa de sei-lá-o-quê e não no tubo, se não já era. Não é LED ou LCD, e muito menos HD. Mas quando liguei, ele estava lá. Em pé com sua capa preta. Gesticulava muito pausadamente, sem nenhum movimento abrupto. Dizem que é porque suas costas já não são mais a mesma da juventude. Às vezes, senta-se. Usava muito da sua voz e por incontáveis vezes, palavras pouco usuais do culto vernáculo português. Tratava por “vossa excelência” e utilizava verbos em tempos como indicativo pretérito mais-que-perfeito ou no subjuntivo pretérito imperfeito. Pouco usuais porque, vossa senhoria que lê, esta mal acostumada. Mas enfim, ele, sem soltar um sorriso, tentando por um bando na cadeia. Barbosa não é super-herói e não tem super-poderes.

Colocado lá no Supremo, como uma grande jogada política do ex-presidente, Batbosa, recusa ser chamado de “juiz negro”, e acredita que esta lá por sua jurisprudência, foi um tiro no pé do Luis Inácio. Hoje caça impetuosamente os comparsas Lulesco. Considerado pelo povo, como um diferente na cúpula governamental, Barbosa quer, ao menos é o que se parece, colocar ordem e mostrar que o Judiciário é autônomo e ainda existe.

Muitos já querem ele como o próximo presidente da nação. Benzadeus, que isso não aconteça. Esse país sem maturidade política e social, não está a altura de um homem como esse. Certamente, como presidente teria que se contorcer, conchavar e acoxambrar as coisas. Por panos quentes, sorrir na foto com o Zé Dirceu, e dizer que foi um equívoco do Dirceu, em um  momento de fragilidade, e que ele não sabia de nada. O Judiciário precisa de um jurista desse quilate e com seriedade. E seriedade aqui é palhaçada.

Barbosa tenta mostrar que pode-se ainda dar jeito, e luta contra seus pares, que têm rabo preso com o Planalto. Parece que ele, por muitas vezes, encarna Quixote, porque fazer isso, no país da bunda, é lutar contra o inimigo invisível.

Barbosa veste sua capa preta e sai pelas ruas de Brasília a caçar malfeitores de paletó e credencial presidencial. Ele precisaria de toda a Liga da Justiça para fazer o trabalho, mas parece que a Liga foi dissolvida por um movimento da CUT e por falta de verba. Eles não tinham caixa dois, que Lula, jura de pé junto, que nunca existiu, nunca viu e nem ouviu falar. Caixa dois pro Lula é a segunda caixa da direita pra esquerda, ou vice-versa, no supermercado.

Barbosa, vingador solitário, é mais louco que o Batman(1).


Notas* : (1) a expressão, mais louco que o Batman é a referência a alguém que vai fazer uma maluquice qualquer. o Batman é o único super-herói sem poderes, mas mesmo assim, luta desesperadamente contra o crime. Tem que ser louco, né?

Música:  Bicho de 7 Cabeças -  Zeca Baleiro

Aqui a música desse artigo

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