Friday, August 19, 2011

O Bule

É verão, calor úmido dessa cidade gelada no inverno. O sol brilha e as saias e micro-saias estão por aí, soltas pelo ar. A brisa bate refrescante e faz todas as saiotinhas ficarem esvoaçantes no ar. Algumas garotinhas mais saidinhas, sem calcinha, e marmanjos de barba, de olho nelas. Enfim é verão, e em uma dessas tardes resolvi fazer uma sessão pipoca. Há tempos não me dava o prazer de sentar no telão.
Fui ver um filme-documentário. Estava em cartaz no prédio to TIFF. Predião novo, com conceitos arquiteturais bacanas. Predião com cara de intelectual de direita, se é que isso existe. Mas nota-se que teve pensamento nele, que destoa da grande maioria dos edifícios dessa cidade meio sem cara, que é Toronto. Toronto rica por sua característica multicultural, mas com uma arquitetura podre. Dá pra contar nos dedos as obras arquitetônicas, e sobra dedo, se sua mão, não for uma mão-lulesca. Mas o prédio do TIFF é bacana. Foi construído para abrigar o Festival Internacional de Cinema de Toronto, em inglês, TIFF. Complexo com restaurantes, lounge e claro sala de cinemas e pop corns! Tem lógico a lojinha para comprar bugigangas e posters.
Comprei minha pipoca e lá fui eu, assistir o tal documentário. E quando a gente vai ver documentário, é bom ir sem nenhuma expectativa. Tá, a gente sempre espera que seja bom, mas a gente nunca sabe. Tem que assistir para saber.
O documentário do alemão Gereon Wetzel, vai mostar o restaurante El Bulli (El Bulli - Cooking in progress, Alemanha, 2011). El Bulli é um restaurante espanhol, perto de Barcelona. Faz uma comida Avant-garde,  sob o comando do Chef Ferran Adria. Uma comida esquisitona, diferente e exótica. Fecha por seis meses para pesquisa do próximo menu.
O documentário mostra o processo criativo do genial chef e seus cozinheiros. Mostra a página em branco e primeiros croquis. O esboço. O teste. A falha. O redesenho. Mostra a obra de arte por atrás de cada prato. A concepção, o partido. A arte criativa em busca do novo. A escolha de enfrentar um novo desafio. Como em arte não importa muito se gosta ou não, “importa entender” - disse Ferran ao seu exército de funcionários.
Impossível não conectar a culinária à arquitetura, que nesse documentário, deixa evidente, a essência da criação. É possível entender todas as fases do processo criativo até o produto final, e seja ele qual for, um prédio, um objeto ou um prato novo.
Bom apetite.


Notas: Foto: Pastel, feito por mim, para matar a saudade da Terrinha. Um de muzzarela, tomate e oregano, o outro de maça com canela.

Música: Comida -  Titãs

Por Fernando Flitz Katayama, Toronto, On Canada 19 Aug 2011

Aqui a música desse artigo

Create a website with Quackit


Thursday, July 07, 2011

Village People

O Brasil é um país esquisito. Isso já dizia um dos melhores professores de geografia que tive, Rui Campos. Fumava como uma chaminé com pernas. Tinha marcas de nicotina entre dos dedos indicador e médio, mas sem dúvida alguma, um excelente professor. Naquela época, final da ditadura, começinho da nova-democracia nacional, Rui falava, “é... Brasil.... país estranho esse nosso: a maior banana tem o nome de Naninca. A arroba do boi magro é mais cara que a arroba do boi gordo...” - tinha mais umas quatro ou cinco, mas eu já me esqueci. A banana Nanica todo mundo entende, é o humor sarcástico nacional, já o preço do boi, vale uma explicaçãozinha rápida, para por à par, das condições daquele momento. Com o fim da ditadura, a democracia querendo das as caras, promessas de reforma agrária pairavam no ar. Diziam que as vastas pastagens nos grandes latifúndios, sem uso, iriam ser tomadas e fariam parte da grande reforma agrária. Os latifundiários amarelaram-se e correram atrás para usar a terra. Comparam um monte de boi magro, para engordar. Com a lei da oferta e procura, vocês já sabem no que deu né?! - A tal grande reforma agrária nunca aconteceu.
Enfim, Rui Campos, está novamente certo: o Brasil realmente é um país diferente. Não só pelas incontáveis belezas naturais, e ai minha gente, pode incluir ai, o país das mais belas bundas do mundo, nada mais natural do que ver uma brasileira com uma bela bunda. Mas pelo modo de tratar certos assuntos.
O Brasil com a sua nova-democracia, ainda obriga o cidadão a votar. Nada mais democrático que isso. Também tem as cotas-universidades, aquelas em que, a cor da pele, sobrepõe o intelecto. Afinal, entende-se que se o fulano é preto é pobre. Se é pobre estudou em escola pública. Se estudou em escola pública é um fudido na vida. Agora lançaram o kit-gay nas escolas.
Sobre o primeiro tópico, volto outro dia, mas sou contra o voto obrigatório no pleno direito ao exercício da democracia. Quanto ao segundo item, foda-se a cor do fulano, arrumem a escola pública. Intelecto não esta conectado à cor da pele. Vou comentar o kit-gay.
Nunca vi tamanho absurdo. Um kit que contem vídeos e cartilhas, de qualidade duvidosa, para mostrar o mundo GLS, e outras letras que já nem sei mais. E não, não tenho nada contra gays, lésbicas e congêneres. Contudo não acredito que essa é a melhor maneira de se tratar o assunto em escolas. Acredito que o tema tenha que ser abordado, mas de outro angulo. Se eu seguir no trilho da cartilha, teríamos que ter: kit gordo, para você entender como é que é a vida do gordo. Kit preto, assim você se envolverá melhor com o preto sentado na carteira ao lado. Kit mulatinho, aquele que não é preto nem branco. Kit japa, e não é para você concorrer a um novo Toyota e nem com matar o japonês na época do vestibular. Kit cadeirinha, você aprenderá na escola, cadeirante também é gente. Kit ateu, e você entenderá que tem gente que não crê em Deus, e não vai pro inferno. Kit neohippe, e você entenderá que tem gente que ainda acha que vive em 1960, mesmo tendo nascido trinta anos depois. Kit direta, kit esqueda... E por ai vai.
A escola deveria mostrar o caminho para tratar das diferenças com igualdade. Todos nós somo diferentes por essência. Em uma real democracia, entender e conviver com as diferenças é parte inerente ao processo. Na escola deveria ensinar a ser tolerante com o outro. A entender que por sermos todos diferentes, somos iguais em nossas diferenças. E isso inclui até mesmo, aceitar a opinião do deputado Jair Bolsonaro, que tem todo o direito de expor suas idéias e opiniões, mesmo sendo adversa a opinião pública e até mesmo à sua. E por sermos todos iguais, temos então todos os mesmo direitos e deveres.
Um abraço ao Rui.


Charge: Angeli e a Parada Gay

Música: YMCA, Village People
Por Fernando Flitz Katayama, Toronto, On Canada 7 July 2011
Aqui a música desse artigo

Create a website with Quackit